Já resenhei livros de Arturo Pérez-Reverte aqui, mas este não é da saga do espadachim espanhol capitão Alatristre. Este "O quadro flamengo" poderia ser incluído na classe de romances policiais, pois o que está em jogo na trama é descobrir quem matou um sujeito, em que pese o fato do crime ter acontecido há quase 500 anos. Descobri que o "último portal", filme de Roman Polanski que tem Johnny Deep no elenco também foi inspirado em uma história sua (no caso, "o clube dumas"). Curioso. Parece que o sujeito escreve mesmo com um olho na gorda bilheteria do cinema. A trama de "O quadro flamengo" é simples. Uma restauradora descobre uma frase escondida em um quadro de um pintor holandês que está a restaurar. A frase remete a um possível crime cometido antes mesmo do quadro ter sido pintado e implica em uma valorização do quadro, que está para ser leiloado. Alguns dos personagens que se envolvem com esta descoberta morrem e a trama passa para o ritmo totalmente detetivesco dos romances policiais. Há muita digressão sobre o jogo de xadrez e como este emula a vida. Acredito que uma pessoa que não goste ou não entenda as regras do xadrez não vai gostar muito deste livro (felizmente há muitos diagramas explicando o desenrolar do jogo e do enredo). A trama é prisoneira demais das regras do jogo. Confesso que fiquei entediado pois acho as metáforas sobre a vida e o xadrez esquemáticas e simplistas demais. Lembro sempre de uma frase do Millôr Fernandes: "o xadrez desenvolve a inteligência para se jogar xadrez". Talvez este meu aborrecimento possa ser explciado por eu ter abandonado o vício do xadrez já há anos e tudo parecer mesmo fácil demais no jogo e na descoberta do assassino. O final é ambíguo (um ponto a favor do livro, afinal). De qualquer forma o autor mostra neste livro que mesmo o assunto mais árido pode ser transformado em boa prosa na mão de um bom escritor. Para quem gosta de entretenimento rápido vale uma olhada. Quem sabe não me cai outro quase-roteiro deste curioso escritor na mão ainda neste ano?
"O quadro flamengo", Arturo Pérez-Reverte, tradução de Eduardo Brandão, editora Martins Fontes, 1a. edição (1994) brochura 14x21cm, 384 pág., ISBN: 85-335-031609
Nenhum comentário:
Postar um comentário