Philobiblon é um pequeno livro escrito em meados do século XIV. Deve ter sido um dos primeiros tratados sobre o valor intrínsico dos livros como propagadores da sabedoria entre os homens. Seu autor é Ricardo de Augenville, cognominado de Bury, outrora bispo de Durham, também Chanceler e Tesoureiro da Inglaterra. Sua alta posição na corte do rei Eduardo III (que reinou na Inglaterra por 50 anos, foi pai do famoso príncipe negro, terror dos irlandeses e que tornou a Inglaterra uma eficiente máquina de guerra) permitiu não apenas que ele recebesse muitos livros de presente de pessoas interessadas em favores públicos e sabedoras de sua paixão pelos livros, mas também permitiu que ele viajasse muito pelo continente europeu, onde visitou e adquiriu muitos livros. Segundo consta ao final da vida sua biblioteca particular era tão grande quanto a soma da de todos os outros bispos ingleses somadas. Seu testamento descreveu a forma como gostaria que seus livros ficasem depositados em uma biblioteca na universidade de Oxford (infelizmente as guerras religiosas de Henrique VIII duzentos anos depois dispersaram todo este rico acervo). Escrito originalmente em latim e pouco antes de sua morte em 1345, o manuscrito ganhou uma versão impressa já em 1473, o que o torna um legítimo incunábulo (os livros que foram impressos antes de 1500 recebem este nome). Escrito na forma de tratado o livro é dividido em vinte capítulos, onde progressivamente vai justificando o valor dos livros, a necessidade de consultá-los e multiplicá-los, as formas de compartilhá-los, os cuidados que devemos tomar ao manuseá-los, e assim por diante. Qualquer pessoa que devote aos livros algo mais que a simples curiosidade humana vai encontrar neste livro uma lição válida após quase sete séculos: a de que não há nada sobre o homem que não possa ser encontrado nos livros se alguém estiver disposto a lê-los até encontrar uma resposta. Há passagens sublimes neste livro. Uma particular já entrou no meu cancioneiro particular: "Pois a virtude da voz desaparece com o som; a verdade escondida na mente é uma sabedoria oculta e um tesouro invisível. Mas a verdade que reluz nos livros deseja se manifestar a todo sentido impressionável." Muito bem editado pela Ateliê Editorial, o livro traz também a versão original em latim utilizada por Marcelo Cid para sua tradução, bem como notas técnicas e um curto prefácio do Claudio Giordano (o editor que adotou a obra de Pedro Nava deve-se sempre se lembrar). Que beleza de livro. Agora sei como me identificar em grego: Aguinaldo, philobiblon. Muito adequado.
"Philobiblon, ou o amigo do livro", Ricardo de Bury, tradução de Marcelo Cid, Ateliê Editorial, 1a. edição (2007) brochura 12x18cm, 256 pág., ISBN: 978-85-7480-368-5
"Philobiblon, ou o amigo do livro", Ricardo de Bury, tradução de Marcelo Cid, Ateliê Editorial, 1a. edição (2007) brochura 12x18cm, 256 pág., ISBN: 978-85-7480-368-5
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