Rosa Montero tomou emprestado de uma santa da igreja católica chamada Tereza de Jesús o título deste livro: para elas a imaginação de uma pessoa é a tal "louca da casa". Rosa Montero usa este mote para definir o que é literatura para ela, em um livro que é um tanto difícil de definir, pois ela propositalmente mistura ficção e realidade, história e criação. Seguramente qualquer pessoa que tenha curiosidade sobre o processo de criação de um autor já seguro de seu talento e determinação vai gostar deste livro. Até aqui é o livro dela que mais gostei (há outros nas estantes, nos guardados, esperando-me calmamente.) Há um pouco de tudo relacionado a literatura neste livro: memória, invenção, dados históricos, jornalismo, cartas, psicologia, ensaio (faltou um tanto de gastronomia, se é que posso brincar um tanto.) No livro ela dá detalhes e faz reflexões bem fundamentadas sobre muitas das armadilhas às quais jovens autores estão sujeitos. Conta pequenas histórias sobre autores ou muito criativos ou que se perderam em um sucesso único (o medo de não conseguir escrever algo novo assombra qualquer um que depende de sua imaginação, desde os tempos remotos dos aedos.) Há um longo capítulo discutindo sobre a validadde do termo "literatura feminista" e sobre o papel da mulher nas letras contemporâneas. Gostei particularmente das reflexões dela sobre a morte, sobre a memória íntima das coisas (sua fragilidade e sua reconstrução/invenção principalmente), sobre os tipos de escritores, sobre as paixões, as viagens, e sobre as mentiras totais e absolutas que contamos aos outros e principalmente a nós mesmos. Talvez inspirada em Allen Ginsberg e Timothy Leary, que defenderam o uso de drogas para testar a criatividade artística ela defende uma espécie de loucura domesticada para o escritor ou ao candidato a ser reconhecido como escritor. Talvez eu não devesse escrever isto aqui (portanto não leia a partir deste ponto se não quiser saber detalhes sobre o livro), mas o artifício de contar uma mesma história pessoal de formas completamente distintas, para exemplificar o quanto o material pessoal de um autor pode ser transmutado em arte, me pareceu um tanto artificial (ela repete o truque vezes demais no livro.) No posfácio ela embaralha as cartas uma vez mais (o Philip Roth faz isto no Operação Shylock e é sempre um belo truque) dizendo que nem tudo é o que parece quando ela fala da vida dela, mas isto não é necessário, já sabemos que a autora - aliás qualquer autor - é uma fingidora. Outra coisa que me pareceu quase um desaforo é ela desautorizar Ulysses e James Joyce em uma linha, sem dó, enquanto gasta páginas com outros autores que para mim não dizem nada, fazer o quê. De qualquer forma é um excelente livro que se lê com muito prazer, além de servir como referência para reflexões pessoais. Acho este livro melhor do que qualquer manual de "como escrever" ou oficina do gênero.
La loca de la casa, Rosa Montero, Santillana Ediciones Generales, 3a. edição (2007) brochura 12.5x19cm, 250 pág. ISBN: 978-84-663-1869-3
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