"El enigma de la luz" reúne um poema e doze ensaios onde Cees Nooteboom apresenta suas impressões sobre algumas exposições que viu. Não é exatamente um exercício de crítica de arte, mas sim o registro de reflexões sobre o papel das artes plásticas em nosso mundo contemporâneo. São ensaios curtos, de alguém que mais conversa com si mesmo que com o leitor. Ora ele enfatiza a exposição em si: a distribuição dos quadros (acertada ou negligente); a qualidade dos quadros (sua origem, história, destino); a forma como o público tem acesso (e como frui da exposição); o papel do museu e de sua curadoria no efeito produzido. Ora ele partilha com o leitor sua leitura particular dos efeitos produzidos: algo sobre a intenção do artista; algo sobre a linguagem empregada nos trabalhos; algo sobre a técnica e o exercício cultural intrínsico de ver idéias produzidas por um semelhante, que traduzem melhor o mundo que nós mesmo, individualmente (será que a arte pode mesmo ser explicada para um semelhante, pergunta Nooteboom). Os artistas são de períodos e lugares bem distintos. Ele escreve sobre Hopper e Vermeer, sobre Tiépolo e da Vinci, sobre Bruegel e Rembrandt, sobre Piero della Francesca e Aert de Gelder, sobre Fídias e de Chirico. Os museus estão espalhados pelo mundo: Holanda, França, Tóquio, Nova Iorque, Würzburg, Veneza. Nooteboom sempre enfatiza sua experiência como viajante. Ver um quadro me meio a uma fila de crianças em Amsterdan é diferente de vê-los na solidão do Guggenheim na quinta avenida de New York. Ver os afrescos de della Francesca reproduzidos em pequenas dimensões em um belo livro de arte ou os afrescos originais a 10 metros de distância em Arezzo (na estival Toscana) são experiências diferentes que se complementam. Nooteboom fala de muitas coisas nestes ensaios: da arte de aprender a visitar museus; do poder de transformação dos grandes pintores; da mensagem que flui de um passado indistinto até nossos dias; do bom de ler enquanto viajamos; de como um quadro pode nos tocar quando mal sabemos o contexto e a história de seu tempo e de seu autor. O livro reproduz em preto e branco vários dos quadros descritos (ao menos uns dois ou três de cada pintor). Em um mundo ideal estaríamos ao lado de Nooteboom comparando impressões, discutindo a beleza instrínsica de cada quadro, o porque das formas e das cores, o impacto que tudo nos proporciona e sairíamos em silêncio dos museus, decantando emoções particulares. Grande sujeito este holandês errante. [início 09/09/2009 - fim 16/09/2009]
"El enigma de la luz - un viaje en el arte", Cees Nooteboom, tradução de Isabel-Clara Lorda Vidal, Ediciones Siruela - debolsillo (1a. edição) 2009, brochura 12,5x19, 144 págs., ISBN: 978-84-8346-965-1
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