Sabia da existência deste livro, mas nunca havia tido a chance de lê-lo. "Zazie no metrô" tem uma versão cinematográfica divertidíssima, que assisti há quanto tempo? Trinta, trinta e cinco anos, quem sabe? Esta bela edição comemorativa do cinquentenário de lançamento chamou-me a atenção assim que a vi, nas prateleiras da CESMA, claro. O texto está impresso em papel bíblia, dobrado de forma a ter uma parte interna onde por sua vez foram impressas ilustrações com detalhes de capas de livros e anúncios publicitários da época da primeira edição francesa, em meados dos anos 1900. O livro tem uma sobrecapa feita de um destes cartazes, o que dá a edição uma beleza particular. Lemos o livro como se estivéssemos em um parque de diversões. O autor, Raymond Queneau, é um dos idealizadores do grupo literário experimental OuLiPo, do qual também fizeram parte Italo Calvino e Georges Perec. Este livro fez muito sucesso e deu fama e visibilidade ao grupo. Queneau utiliza uma técnica narrativa onde se privilegia o som das palavras, o que dá ao texto um frescor, uma dinâmica, que não deixam o leitor largar o livro. Não se trata de um experimento linguístico bobo, mas sim algo que capta a forma como distintas classes sociais em distintas situações se expressam. Os diálogos podem parecer disparatados a princípio e contam uma história curiosa. Zazie é uma menina desbocada que vai passar um final de semana em Paris com um tio. Sua mãe vai aproveitar a folga para conhecer melhor seu novo namorado. O tio é um transformista, vive na noite parisiense e tem um círculo de amigos incomuns: um taxista, um dono de bar, um sapateiro, um taxista e uma garçonete (acompanhados de um papagaio que repete "falar, falar, você só sabe fazer isto", o que é uma síntese deste livro, onde todos falam o tempo todo). Zazie quer conhecer o metrô de Paris, mas uma greve impede a menina de fazê-lo. Aborrecida ela sai sozinha pela cidade. Um sujeito (que pode ser um pedófilo ou mesmo um policial) a leva de volta para casa e se junta ao pequeno bando de amigos do tio de Zazie. Durante o dia eles encontram turistas, policiais, gente da noite, vagabundos e voyers, se envolvendo nas estrepolias geradas pela espirituosa Zazie. Lembrei de passagens do filme (que preciso experimentar uma vez mais um dia destes). É um livro interessante, ágil, que leva o leitor a pensar nas transformações pelas quais passamos na vida. [início 15/03/2010 - fim 16/03/2010]
"Zazie no metrô", Raymond Queneau, tradução de Paulo Werneck, editora Cosac Naify 1a. edição (2009), brochura 15,5x22 cm,192 págs. ISBN: 978-85-7503-763-8
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