Neste pequeno livro de crônicas Hilda Simões Lopes nos conta um tanto de suas experiências de viagens à capital dos cubanos, a cidade de La Habana. São doze crônicas, produzidas com muito cuidado, cada uma delas com uma epígrafe. Não sabemos se foi uma única viagem que as geraram ("convidada para um congresso", ela escreve em uma das crônicas). A amplitude das histórias faz pensar que elas são mais o resultado de várias experiências, todavia isto pouco importa. Ao mesmo tempo que frequenta lugares populares, bares, restaurantes, casas de bolero, Hilda também é convidada para recepções mais formais, mais sofisticadas. São crônicas bem realistas, que descrevem aspectos variados da sociedade e do povo da ilha, sobretudo o mundo das mulheres. Corajosa, ela descreve como opera uma ditadura brutal, que se apresenta sempre, onipotente, até nos pequenos gestos, nas frases dissimuladas, nas conversas interrompidas. Diria que ela até tenta ser simpática ao povo, à alegria das gentes, ao colorido e a musicalidade natural da cidade, mas seu texto desnuda um mundo de contradições, que se revela sufocante. As histórias são realmente curtas, mas bastante poderosas. Triste é saber que mesmo após mais de dez anos da publicação destas histórias o destino desgraçado do povo cubano só se tornou mais terrível, a opressão à liberdade mais completa e anacrônica. As ditaduras têm mesmo esta incrível capacidade de se perpetuar. Mas Hilda não tem nada com isto. Suas histórias continuam saborosas, frescas, interessantes. [início 20/03/2010 - fim 30/03/2010]
"Cuba: casa de boleros", Hilda Simões Lopes, editora AGE, 1a. edição (2000), brochura 14x21 cm, 62 págs. ISBN: 85-85627-86-7
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