Cees Nooteboom é um dos escritores mais originais que já conheci. Neste pequeno livro, publicado originalmente em 1981, ele fala do ofício de escrever, da capacidade de se inventar algo que poderia ser real. Mas ele não enfada o leitor com teorias e academicismos e sim o enreda em um par de histórias, muito curiosas, que iluminam alguns seus pontos de vista sobre o tema. O livro termina com um comentário sobre a teoria da relatividade de Einstein e um curto trecho de uma das peças de Calderón de la Barca que realmente surpreendem o leitor. De la Barca apresenta um autor conversando com sua obra, o mundo, que se descobre potencia por força do gênio deste autor. Esta espécie de epílogo replica as duas histórias que acabamos de ler. São dois planos. Um escritor nosso contemporâneo está a produzir um romance. Em seus contatos sociais cruza com um outro escritor, que acompanha (como nós acompanhamos o livro que estamos a ler) a história que o primeiro escritor está produzindo. Ele tentar interferir no enredo, mas isto irrita o primeiro escritor, que sempre modifica seus planos quando percebe que está sendo influenciado pelo outro escritor. Eles discutem literatura e a aparência das coisas, falam de Fernando Pessoa e Jorge Luiz Borges. A história que está sendo escrita é sobre um triangulo amoroso que se passa na Bulgária dos anos 1870, ainda as voltas com guerras de independência, guerras com o império otomano. A influência russa em sua cultura também é algo perene no livro. Um militar de carreira, um coronel, e um colega seu, também militar, mas que exerce a medicina discutem o mundo em que vivem em meio as escaramuças e batalhas. O coronel é um sujeito amargurado, que tem pesadelos e que depende de remédios para tolerar a vida. Após uma vida em batalhas o médico se casa, mas de alguma forma precisa que o coronel continue próximo a ele, e o convida para sua viagem de núpcias à itália. Em certa medida ele acredita que sua mulher deva ser seduzida pelo militar, pois acredita no papel positivo do ciúme nas relações afetivas. O coronel por sua vez acredita ser correspondido na paixão postiça que tem pela mulher, que curiosamente não tem voz no romance. Quando o autor decide por fim ao livro que está escrevendo, seus personagens parecem querer fazer o mesmo, cada um a seu modo. Curioso e tocante livro este. [início 25/07/2010 - fim 29/07/2010]
"Una canción del ser y la apariencia", Cees Nooteboom, tradução de Julio Grande, ediciones Siruela (Novos Tempos), 1a. edição (2010), brochura 14x21,5 cm, 103 págs. ISBN: 978-84-9841-346-5
2 comentários:
Athos Ronaldo Miralha da Cunha disse...
Essa capa está parecida com a capa de A frase do doutor Raimundo. rs
21 de agosto de 2010 19:56
é verdade meu caro athos...
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