Publicado originalmente em 1985 este livro de McCarthy conta uma história terrível. Trata-se de uma história de iniciação, de sobrevivência e aprendizado (e talvez de redenção, mas o final é ambíguo demais para se ter certeza). Em meados do século XIX, na longa fronteira de uma região ainda em disputa entre americanos, mexicanos e indígenas, um mundo bruto e selvagem, um garoto aprende a sobreviver através da violência. Ele se junta a um bando que vende serviços de extermínio, ora dos índios, ora de mexicanos. Há muito de mitologia escondido no texto, mas o enredo é baseado (bastante livremente se supõe) na biografia de um sujeito chamado Samuel Chamberlain que participou de uma gangue de matadores deste tipo, liderados por um sujeito chamado John Joel Glanton. No livro o bando passa boa parte do tempo caçando e exterminando índios, fugindo destes ou de militares americanos e mexicanos ou presos. A cada ronda de massacres McCarthy aborda de forma diferente como os homens se relacionam e são influenciados pelos elementos. O livro é dividido por capítulos com títulos longos, explicativos, que lembram a estrutura dos cantos da odisséia ou da ilíada. Os personagens são também emblemáticos, um em especial preenche todo o livro: o Juiz Holden. Alto, careca, violentíssimo, mas também um cientista natural, um homem renascentista, que parece entender de todos os assuntos. Quando aparece na trama ele fala (pontifica talvez seja o termo certo) de religião, geografia, biologia, mostra entender de astronomia, minearologia, política. A trama se desenvolve para um embate final entre Holden e o garoto. Após uma escaramuça final e fuga dos índios o bando se dispersa (são mortos ou aprisionados, cada um a sua vez). O garoto tem a chance de matar Holden, pois entende que é ele quem de fato dominava mentalmente o bando e os induzia as matanças. Ele falha e logo é preso. Holden o ajuda a sair da prisão e se recuperar dos muitos ferimentos. Separam-se. O romance avança em poucas páginas uns trinta anos. Encontramos o garoto já maduro, trabalhando em fazendas como vaqueiro. Quando Holden e o "garoto" se encontram não sabemos exatamente o que acontece. É como se Holden fosse um demônio, uma força da natureza, que voltasse para cobrar a vida do garoto, um demônio que continuará a insuflar morte e destruição entre os homens. Em um curto epílogo há uma cena que lembra Cadmo semeando os dentes de dragão que irão gerar os espartanos, sedentos de sangue e guerra. Um bom livro, algo esquemático demais talvez, mas ainda assim uma coisa que transforma o leitor. [início 18/08/2010 - fim 20/08/2010]
"Meridiano Sangreto ou O anoitecer vermelho no oeste", Cormac McCarthy, tradução de Julieta Leite, editora Nova Fronteira, 1a. edição (1991), brochura 14x21 cm, 320 págs. ISBN: 85-209-0256-1
Um comentário:
Aqui estou, pra lá eu vou. Muito bacana, por bem mais quis ser o de que um não, que este blog, a mim veio, destino imprevisível, do torno ao vento, que encontrei de fato, sem, sim, para ideias, de um tiquin, assim ora jamais ter visto.
Postar um comentário