Esta bela edição reúne 7 contos de Mário de Andrade, dois textos críticos (assinados por Aline Nogueira Marques e Tatiana Longo Figueiredo) e reproduções fac-similares das edições originais do livro. Tudo muito bem organizado e apresentado, bonito mesmo. As histórias originais são dos anos 1920, 1930, mas a forma final delas foi fixada por Mário em 1944, quando publicou em livro todos eles pela primeira vez. A São Paulo que se urbaniza de forma caótica na primeira metade do século passado emerge das páginas do livro; o falar das gentes, sem norma culta, sem norma alguma, vibra vívido nos contos; o caldeirão de imigrantes, sonhos, ambições, dinheiro (combinação sempre explosiva) fica registrado nas histórias como se estivesse acontecendo hoje (e lá se vão uns 90 anos da publicação original). São contos muito bons, mas pessimistas e terríveis pelos temas que abordam: a solidão e a triteza das gentes, a vida dura nos bairros pobres, os sonhos baldados. Mário de Andrade experimenta a língua, tenta captar o falar de imigrantes nacionais e extrangeiros, cultos e incultos, que se misturam na cidade. O livro é um celeiro de frases, idéias, estruturas narrativas, oralidade. O narrador conta as histórias que um tal Belazarte lhe contou, mas este Belazarte é um alter ego pouco disfarçado do próprio Mário, um personagem que talvez tenha se tornado um fardo para ele. As histórias terminam sempre com um bordão do tipo: "fulano foi muito infeliz" ou "fulano foi infeliz", que aumenta a melancolia no leitor, mas ao terminar o livro podemos sim dizer: "o leitor foi muito feliz." Que livro! [início 20/09/2010 - fim 29/10/2010]
"Os contos de Belazarte", Mário de Andrade, editora Agir, 1a. edição (2008), brochura 13,5x21 cm, 165 págs. ISBN: 978-85-220-0883-4
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