Depois que o Ronaldo Lippold fez propaganda de Mario Arregui li "Cavalos do amanhecer" com muita satisfação (o povo das quintas-feiras também leu e se divertiu, cousa boa). Na feira do livro de Porto Alegre encontrei esta outra compilação de contos dele, também traduzidos pelo Sérgio Faraco. Comecei o livro animado mas se percebe logo que esta edição tem muito menos estofo que a anterior. São treze contos curtos, que se deixam ler em minutos. Não gostei da maioria deles. O tradutor, Sérgio Faraco, diz nas orelhas do livro que eles compõem um "hemisfério sombrio", de fato o rumor da morte percorre quase todas as histórias, mas eu acho apenas que eles são contos góticos de segunda linha, apenas contos de horror algo pretensiosos. Quando as histórias incluem diálogos o leitor fica hipnotizado de verdade, o sujeito sabe amarrar o ritmo de pessoas que conversam, que interagem, mas quando ele é apenas descritivo, quando cria o clima sombrio de suas monótonas histórias não há como o leitor não ficar entendiado. Estes personagens que estão sempre presos entre o sonho e a vigília, em transe, dominados por alguma maldição ou culpa são mesmo de amargar. Pode ser que eu tenha lido estes contos de mal humor, mas não tenho mesmo a menor paciência para isto. Claro, há dois ou três contos muito bons, que deixam o leitor apreciar a erudição e o domínio técnico de Arregui, mas um bom livro não pode contar apenas com um punhado de boas passagens para se sustentar. Além da apresentação de Sérgio Faraco e de ilustrações de Martin Arregui (filho do autor) o livro inclui um prólogo do próprio Mario Arregui, onde ele fala sobre seu projeto literário, de sua idéia do ofício de construir contos. Interessante, mas ele mistura o ensaio com umas idéias marxistas que são anacrônicas demais para serem apreciadas. Paciência, vamos em frente. [início 17/12/2010 - fim 23/12/2010]
"A cidade silenciosa", Mario Arregui, tradução de Sérgio Faraco, Porto Alegre: editora Movimento, 1a. edição (1985), brochura 14x21 cm, 88 págs. sem ISBN
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