"La muerte hace buena letra" é um romance coletivo assinado por onze escritores uruguaios: Mario Benedetti, Hugo Burel, Miguel Àngel Campodônico, Enrique Estrázulas, Milton Fornaro, Suleika Ibáñez, Sylvia Lago, Juan Carlos Mondragón, Teresa Porzecanski, Omar Prego Gadea e Elbio Rodríguez Barilari. A idéia original deste formato de produção literária foi de Omar Prego Gadea ainda no início dos anos 1970. Todavia, o golpe militar de 1973 no Uruguai adiou o projeto e somente vinte anos depois ele pôde ser concretizado. Prego Gadea convidou dez escritores (não exatamente os mesmos do projeto original). Foi acordado que cada um dos onze escreveria dois capítulos de uma história, em duas rodadas alternadas com os demais, seguindo a ordem alfabética de seus sobrenomes. Não houve regras restritas quanto ao gênero da história, o desenvolvimento do enredo e os estilos literários a serem seguidos. Após os vinte e dois capítulos terem sido escritos eles todos se reuniram e imaginaram um final coerente para o livro. Prego Gadea foi incumbido de escrever este último capítulo. A história é bem movimentada e talvez em função do número grande de autores cheia de reviravoltas e surpresas. O personagem principal é um escritor, Govoni, que foi casado duas vezes, publicou livros de sucesso, mas se encontra bloqueado. Ele dá uma entrevista falando sobre suas dificuldades em escrever que provoca muitas reações (sendo que a principal delas é sua morte, alguns capítulos depois). "La muerte hace buena letra" se transforma então um romance policial, mas um romance policial atípico, podemos dizer pós-moderno, com múltiplas vozes, pois há muitas citações literárias na história, o uso de cartas, sonhos, deslocamentos temporais, que dão a história alguma ossatura e que mantêm o leitor interessado no desenvolvimento do enredo. Mas o resultado final não me impressionou muito. As reviravoltas, o surgimento e ressurgimento de personagens secundários, as mudanças algo abruptas na personalidade deles tornam o livro artificial demais. Uma possível leitura do livro é a de que a morte do autor é uma metáfora do fim do processo autoral, das possibilidades de construir algo novo, artística e literariamente falando. Exótico, mas eu me diverti mais com as dificuldades para conseguir importar este livro. O Athos me alertou que havia um romance coletivo publicado no Uruguai nos anos 1990, no estilo que cá em Santa Maria se tem experimentado, ainda em março ou abril do ano passado. Tentei com várias importadoras, mas foi a velha Amazon quem me alcançou este volume. Vamos em frente. [início 25/12/2010 - fim 29/12/2010]
"La muerte hace buena letra", Omar Prego Gadea (org.), Montevideo: ediciones Trilce, 5a. edição (1994), brochura 13,5x21 cm, 215 págs. ISBN: 9974-32-063-1
Um comentário:
Meu caro Guina.
Nós, que estamos metidos nessa maneira coletiva de lidar com a literatura, temos uma certa obrigação ler o “La muerte hace buena letra”.
Penso que esses uruguaios nos copiaram, mas nos copiaram antes. RS.
Athos
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