terça-feira, 18 de janeiro de 2011

historia abreviada de la literatura portátil

Os romances de Vila-Matas são essencialmente divertidos e brincam com a vontade do leitor de sempre saber mais, de fazer conexões eruditas, de se deleitar intelectualmente. Não é um exercício exatamente fácil, mas depois que entramos em seu jogo nos divertimos à beça (os leitores vaidosos de sua inteligência e/ou modernidade hão de sentir-se mais gratificados do que aqueles que apenas querem um par de horas de um bom livro). No fundo o que ele nos ensina é que não podemos ter fé cega em tudo o que é escrito, em tudo que é publicado, pois a palavra foi mesmo inventada para esconder o pensamento. O recorte que ele faz no livro, sua "história da literatura", é algo híbrido: um ensaio literário, um manual literário e também uma carta de intenções como autor. Publicado originalmente em 1985 "Historia abreviada de la literatura portátil" foi o livro que lhe trouxe reconhecimento em grande escala, tanto entre os leitores quanto entre a crítica literária. Vila-Matas parte de textos reais de dadaístas, surrealistas e outros escritores dos mais variados estilos, das duas primeiras décadas do século XX, para construir/inventar uma improvável sociedade literária secreta (chamada Shandy, algo emprestado à Lawrence Sterne) que teria existido entre 1924 e 1927 (da qual fariam parte Scott Fitzgerald, Walter Benjamin, Marcel Duchamp, Valery Larbaud, Georgia O´Keefe, Man Ray, Francis Picabia, Aleister Crowley, Blaise Cendrars e muitos outros). O livro é movimentado, leva o leitor de uma cidade européia a outra, de um encontro amalucado entre escritores e intelectuais e outro. É de fato muito instigante. Tudo tem algo de verossímel, mas Vila-Matas deixa toda história em um mar de contradições, que não permitem ao leitor descobrir de imediato o que é factual e o que é invenção. De qualquer forma achei tudo mesmo bem escrito, encontramos nesta "Historia abreviada..." um festival de jogos mentais agradáveis de se ler. Descobri que Vila-Matas mantêm (ou alguém mantêm para ele), um blog inteiramente dedicado a experimentação iniciada com o livro (http://www.enriquevilamatas.com/obra/l_halp.html). Aparentemente este jogo metaliterário continua funcionando bem, mais de vinte e cinco anos após sua publicação inicial. Bueno. Este é o quarto ou quinto Vila-Matas que já li. Comecei com o penúltimo, Dublinesca, que fala de seu Bloomsday particular, mas li também "La asesina ilustrada", seu segundo livro e o movimentado "Paris no se acaba nunca", de 2003. Tenho um bocado de outros livros dele, que vou ler com vagar ao longo deste ano. Ainda vou fazer uma conexão entre ele e o poderoso Javier Marías. Há tempo. [início 01/01/2011 - fim 05/01/2011]
"Historia abrevida de la literatura portátil", Enrique Vila-Matas, Barcelona: editorial Anagrama (colección compactos), 5a. edição (2009), brochura 13,5x20,5 cm, 125 págs. ISBN: 978-84-339-6648-3 [edição original: Anagrama (narrativas hispánicas), 1985]

2 comentários:

vera maria disse...

Já li dele a história da literatura portátil, sucídios exemplares e a máquina de fazer de fazer espanhois (esse último, absolutamente maravilhoso, para mim), mas não li ainda nem metade do que vc já leu do enrique, e por sugestão de seus comentários ficam na minha lista paris não acaba nunca e dublinesca, de imediato.
um abraço,
clara

vera maria disse...

Pois então, nada como uma cabeça quando o alemão já bate à porta ::), acabei fazendo uma salada russa entre o valter hugo e sua máquina de fazer espanhóis, e o henrique vila-matas e sua história abreviada da literatura portátil, talvez porque eles embaralham-se nas referências. Falei um pouco sobre o vila matas aqui: http://linhadepesca.blogspot.com/2011/09/tres-livros-ou-dois.html

E sorry pela confusão,
abraço,
clara