"Giacomo Joyce" é um conjunto de dezesseis poemas em prosa (se é que se pode classificar tão facilmente assim essa jóia joyceana), sobre um enamoramento dele, experimentado em favor de uma aluna de seus tempos de Trieste, uma espécie de Beatrice Portinari revivida, entre 1911 e 1914. Deve ter sido escrita em 1914, mas só foi publicada postumamente, em 1968, por conta dos esforços do industrioso Richard Ellmann. Lembro-me da primeira vez que li esse texto, nos anos 1980, numa edição muito boa da Brasiliense. A tradução era do Paulo Leminski e a edição incluía fac-símiles das dezesseis páginas manuscritas originais. Anos depois a Iluminuras publicou uma outra tradução, assinada por José Antônio Arantes. Por um acaso dos diabos descobri esta terceira tradução. Nessa última feira do livro de Porto Alegre eis que vi Cida, querida amiga, conversamos um tanto, mas logo depois, qual um homem pernilongo (como aquele descrito por Thomas Mann no Tonio Kröger) serpenteando entre as gentes fui cumprimentar o Zeca, depois o Dilan, também o Rosp, e logo a Denise, o Élvio e o Romar, que foi quem por fim apresentou-me Majela Colares, um poeta nascido no Ceará (de quem ainda vou resenhar algo aqui). E foi o generoso Majela quem mostrou-me um livro do Joyce que eu não conhecia (...traduzido por um amigo meu, disse Majela). Os livros sabem mesmo usar caminhos tortuosos para procurar quem os ame. Essa nova tradução é assinada por Roberto Schmitt-Prym, um gaúcho de Pananbi que é fotógrafo experiente e que já havia traduzido de Joyce ao menos um dos contos do Dublinenses. A edição é bilíngue, da gaúcha Bestiário. Eles incluiram umas boas notas no final (o texto não é particularmente hermético, mas alguma ajuda com cousas cifradas sempre é bem vinda). Numa das orelhas do livro há uma pequena biografia de Joyce (que acho ruim, a única cousa mal feita no livro). "Giacomo Joyce" é para se ler com calma, saboreando as imagens, os sons, a concisão e os efeitos, além de tudo aquilo que não é dito, apenas inspirado pelo texto. Fiquei tão feliz em encontrar esse livro que o registrei aqui antes de tantos outros. Há livros que esperam estóicos um registro, uma memória, represados que estão por minhas viagens e vagabundagens. É tempo de trabalhar, e com mais afinco.
[início - fim: 03/11/2012]
"Giacomo Joyce", James Joyce,
tradução de Roberto Schmitt-Prym, Porto Alegre: editora Bestiário, 1a.
edição (2012), brochura 14x21 cm, 47 págs.
ISBN: 978-85-98802-04-6 [edição original: Giacomo Joyce (Londres: Faber and Faber) 1968]
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