Tempos atrás li todos os poemas de Kaváfis em português. Tratava-se de uma boa edição da Odysseus e os 154 poemas conhecidos dele estavam ali traduzidos, lado a lado dos originais, por Ísis Borges da Fonseca. Eu havia acabado de ler o Quarteto de Alexandria, de Lawrence Durrell, e estava entusiasmado com as coisas egípcias (a primavera árabe ainda não estava no horizonte). Os poemas de Kaváfis quase sempre envolvem temas
históricos e/ou mitológicos que, por sua vez, incluem alguma reflexão plena de
erudição. A primavera deste 2012 nos trouxe uma antalogia de poemas de Kaváfis, também bem editada (agora pela Cosac Naify) e assinada por Haroldo de Campos. Nem precisei pensar, logo comprei o livro, seguro que tudo a que Haroldo de Campos dedicou atenção e tempo vale ouro, merece uma consulta. Não me decepcionei. São só quinze poemas (dez por cento da produção original de Kaváfis), mas cada um deles parece tomar de assalto nossa sensibilidade e nos obrigar a pensar. Sou analfabeto em grego, crânio recheado de palha que sou, mas nas edições bilíngues os originais parecem nos estimular à leitura de um jeito mágico, como nos incentivando a alcançar uma compreensão maior. Na edição da Odysseus os poemas estão publicados em ordem cronológica e incluem curtas explicações temáticas da tradutora, Ísis da Fonseca. Já Haroldo deixa os poemas se defenderem sozinhos, o que não é uma má escolha. O livro inclui um kavafiano poema de apresentação assinado pelo próprio Haroldo; um ensaio onde ele detalha seus procedimentos e escolhas de tradução; dois excertos de poetas gregos (Dionysios Solomos e Odysseas Elytis, o primeiro predecessor e o outro sucessor, de Kaváfis) e uma nota final, assinada por Trajano Vieira, dando conta de como foi feita a compilação destes quinze poemas para publicação póstuma (e o porquê de não incluí-los no Entremilênios - volume onde estão reunidos o material inédito em livro à época de sua morte, em 2003). Vejam só, no 16 de agosto do ano que vem se completarão dez anos da morte de Haroldo. Será tempo de relembrá-lo um tanto, com renovado vigor e entusiasmo. Evoé.
[início 12/09/2012 - fim 22/11/2012]
"Poemas de Konstantinos Kaváfis", Konstantinos Kaváfis, tradução de Haroldo de Campos, São Paulo: editora Cosac Naify, 1a. edição (2012) brochura
16x26,5cm, 64 pág. ISBN: 978-85-7503-827-7 [edição original: Κωνσταντίνος Καβάφης (1863-1933)]
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