Os quatro contos reunidos em "Histórias de Paris" foram produzidos há tempos: "Cinco anos de vida" foi publicado no livro "A morte e outras surpresas", de 1960; "O hotelzinho da rua Blomet" no livro "Com e sem nostalgia", de 1977 e "Só por distração" e "Geografias" no livro "Geografias", de 1984. Todavia, enfeixados nesta edição, que é ilustrada por Antonio Seguí, eles ganham uma unidade temática, pois falam da experiência do exílio, da vida na Europa de personagens que fugiam das ditaduras militares da América Latina. Numa das histórias um casal de exilados uruguaios se reencontra num café, todavia, como quase sempre acontece em ocasiões deste tipo, apesar do desejo são as almas que se reencontram, enquanto os corpos não. Numa outra um casal fica preso por acaso em uma estação do metro e, cinco anos depois, um deles avalia se aquele foi um acaso feliz ou um erro, que poderia ter sido evitado, tivesse ele feito outra cousa naquele dia. Noutra história um casal se reencontra, mas ao contrário da primeira destas quatro, seus corpos se encontram, mas ambos já se metamorfosearam demais para que sobrevivesse neles o antigo amor. A última história é uma alegoria. Benedetti fala da falsa liberdade no exílio, através de um sujeito que vaga pelo mundo sem nunca sentir-se realmente bem, até que distraído, volta inadvertidamente para casa (e para a prisão). As dores do deslocamento forçado dos exilados sempre é enorme. Benedetti alcança em suas pequenas histórias oferecer ao leitor, com leveza, um tanto desta dor. Não é pouco. O livro inclui uma generosa apresentação de Eric Nepomuceno.
[início: 11/06/2013 - fim: 12/06/2013]
"Histórias de Paris", Mário Benedetti, tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman, ilustrações de Antonio Seguí, São Paulo: editora Globo (coleção Biblioteca Azul), 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm., 65 págs., ISBN: 978-85- 250-5373-2 [edição original: Histórias de París (Barcelona-Madrid, Libros del Zorro Rojo) 2007]
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