Neste volume não há textos inéditos. Todos podem ser encontrados nos demais livros de Javier Marías, principalmente aqueles onde estão compilados seus artigos escritos para jornais e revistas. Todavia trata-se de um livro que propicia algo precioso, a imersão nas narrativas de Marías diretamente relacionados a seu Ciclo de Oxford, ou seja, ao conjunto de romances: "Todas las almas", "Negra espalada del tiempo" e "Tu rostro mañana". A organização e apresentação do livro é assinada por Inés Blanca, uma conhecida especialista na obra de Marías, que nos informa que a primeira pessoa a investigar esses volumes como um conjunto foi José María Pozuelo Yvancos (no "Figuraciones del yo in la narrativa"). São cinquenta e sete textos, organizados tematicamente. Em "Los que sí han cruzado el mundo" encontramos 17 narrativas de Marías dedicadas a personagens reais que foram incorporados de alguma forma à sua ficção (ele é um mestre neste tipo de aproveitamento); em "Un país de novela" 5 textos que falam de sua experiência em viver na Inglaterra; em "Reino de redonda" 4 textos onde ele explica o acaso de sua investidura como rei Xavier I (da ilha de Redonda). A parte mais interessante do livro é a seção "El autor ante sus libros", onde encontramos 11 ensaios nos quais Marías explica um tanto de seu ofício como escritor, seu método de trabalho, a gênese de suas histórias (especificamente das três citadas acima). Na seção "Los tiempos y sus hechos" estão reunidas 11 crônicas sobre os aborrecimentos decorrentes da versão cinematográfica de "Todas las almas" e também alguns textos sobre política, história e economia do período que começa na queda do muro de Berlim (1989) e termina com o ataque às torres gêmeas em Nova Iorque (2001), temas que dão fundamento os romances desse ciclo. Na seção "El autor se asocia y callejea" Marías fala de sebos e antiquários, de sociedades e festividades literárias. O volume se encerra com dois contos (já incluídos no "Mientras ellas duermen") e diversos apêndices, de procedência e estilos variados, quase todos produzidos por terceiros (há resenhas e apresentações de Ángeles García, Eduardo Mendoza e Cabrera Infante por exemplo), além de uma lista atualizada da aristocracia do reino de Redonda, dos ganhadores do prêmio literário de mesmo nome concebido por Marías e algumas entrevistas. O texto mais antigo é de 1985, o mais recente de 2013. O leitor que já tenha experimentado aqueles três romances aproveita melhor esse livro, mas ler Javier Marías nunca aborrece ninguém, mesmo um eventual, porém curioso, neófito. Vale.
[início: 15/11/2014 - fim: 25/11/2014]
"Las huellas dispersas", Javier Marías, organização de Inés Blanca, Barcelona: Debolsillo (Penguin Random House Grupo Editorial), 1a. edição (2013), brochura 12,5x19 cm., 388 págs., ISBN: 978-84-9032-781-4
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