Noutro dia, na ensolarada Salvador, conversando com o David Viana, um amigo físico que conheço há mais de trinta anos, descobri que seu irmão escreve (como gosto desses acasos). O David também ficou surpreso quando soube que eu escrevia sobre os livros que leio, de forma que ficamos assim bem empatados. Procurei os livros do Antonio Viana e que grata surpresa tive. "Cine privê" é de 2009. É um conjunto de contos de alguém que domina totalmente a técnica e tem a imaginação suficientemente ágil. Ele oferece ao leitor, a cada conto, a cada história, reflexões realmente ricas e poderosas. Os protagonistas das histórias são quase sempre jovens, crianças, garotos, pessoas que não tem a vida dominada por estereótipos, mas sim que experimentam cada desafio e mesmo os tropeços com decisão e coragem. As histórias são quase sempre cruéis, não há nelas um traço ou vislumbre otimista possível, mas o leitor que já aprendeu que não é função da boa literatura oferecer amostras da vida real edulcoradas (ou esgarçadas, tanto faz) recebe e lê as invenções de Viana com prazer. Ele não confunde o processo de transformar os fatos duros da vida em ficção com a invenção, a ficção, de fatos duros e terríveis, ou seja, ele não é um roteirista de documentários mas sim um bom criador de contos. São vinte os contos, todos curtos, muitos deles gravitando o universo do amor e do sexo, explorando aquele momento da vida de cada um de nós onde nos definimos ou, ao menos, experimentamos algo capaz de nos marcar para sempre. Os nomes que Viana inventa para seus personagens são algo que merece ser registrado. O sujeito gosta de usar os nomes mais amalucados, aqueles que só a ingenuidade e a verdade da gente simples poderia usar sem vergonha ou pudor, pois valorizam antes o agradável que é o som dos nomes e das coisas que o real sentido delas. A frieza e a concisão de Viana são notáveis. Claro, vou procurar mais livros desse sujeito. Vale.
[início: 13/04/2015 - 22/04/2015]
"Cine privê", Antonio Carlos Viana, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras), 1a. edição (2009), brochura 14x21 cm., 124 págs., ISBN: 978-85-359-1440-5
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