Os contos curtos de Roberto Schmitt-Prym são como fragmentos de memória, recortes de situações e vidas das quais nunca saberemos dos antecedentes ou dos fatos que se desdobrarão delas. O olho do narrador parece surpreender os eventos e registrar o que há de mais curioso ou impressionante neles."Perguntas" lembra um poema de Wislawa Szymborska, aquele que o narrador/terrorista conta os minutos que faltam para a explosão de uma bomba (e faz o censo daqueles que irão morrer); "Regresso" lembra uma peça de Mário Prata ("Besame Mucho"), onde a cronologia reversa explica a motivação de um crime; dois ou três outros contos jogam com as possibilidades lógicas daquela parábola taoista que fala de um monge e uma borboleta que sonham. Schmitt-Prym (de quem já li uma boa tradução de Giacomo Joyce) alcança mostrar sua versatilidade e domínio da técnica, entretanto suas histórias parecem destinadas a se diluirem no vasto mar de tantas outras que os leitores conhecem e não mais identificam com um único autor. É um risco previamente calculado (ou sua ambição original)? Difícil saber. De qualquer forma vou procurar mais coisas dele.
[início: 25/04/2015 - fim: 27/04/2015]
"Contos vertiginosos", Roberto Schmitt-Prym, Porto Alegre: editora Bestiário, 1a. edição (2012), brochura 14x21 cm., 79 págs., ISBN: 978-85-98802-27-1
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