Do asturiano Alfonso Zapico já havia lido dois livros divertidos dedicados a James Joyce ("Dublinés" e "La ruta Joyce") e um outro em que ele conta a vida de Nuñez de Balboa, um explorador espanhol do século XVI. Em "Café Budapest" o tom é amargo, sombrio, sem esperança, afinal não é possível falar do conflito árabe-israelense com otimismo. A história de Zapico começa logo após o final da segunda grande guerra. Yechezkel Damjanich (Chaskel), um jovem violonista que vive com sua mãe em Budapest, na Hungria, entra em contato com um tio, irmão de sua mãe, Yosef, que havia emigrado para a Palestina, onde era dono de um café, no bairro antigo de Jerusalém. Nessa época a Palestina estava sob administração inglesa. O tio os convida para viverem com ele e se afastarem da opressora influência soviética sobre a Hungria. Irmão e irmã não se falavam há anos e evitam explicar a Chaskel as razões de sua animosidade (o sujeito é basicamente um anarquista, um anti-comunista ferrenho, e ela uma sobrevivente dos campos de concentração nazistas). A Jerusalém que mãe e filho encontram ainda é uma cidade onde convivem razoavelmente bem judeus, cristãos, árabes e palestinos, mas se percebe que há tensões e que aquele equilíbrio é precário. Zapico conta a história de amor entre Chaskel e uma garota árabe (Yaiza). Em paralelo fala dos desdobramentos terríveis da partição da Palestina entre árabes e judeus e a criação do estado de Israel, em 19 novembro de 1947 (Zapico cita o brasileiro Osvaldo Aranha, que nesse dia presidia a Assembléia das Nações Unidas). O Café Budapest continua por algum tempo um oásis em meio ao caos e a barbárie que dominam a cidade. Após a saída dos ingleses da Palestina, em março de 1948, sangrentos combates entre árabes e judeus irrompem, velhas amizades são contaminadas pelo ódio. Yosef e Chaskel (acompanhado por Yaiza, grávida) optam por emigrar de volta para Budapest, acreditando que a paz breve voltaria a Jerusalém (mas já sabemos que isso não acontecerá tão cedo) e que o Café Budapest poderia ser reaberto. Zapico alcança produzir um registro imparcial, identificando os excessos dos dois lados em conflito. A felicidade humana não está inscrita em nosso DNA. O destino dos indivíduos sempre são um detalhe quando começam as hostilidades entre povos e nações. E o Brasil, que teve um papel relevante na criação do estado de Israel, hoje parece mesmo um irresponsável anão diplomático, mas deixemos o censo das muitas desgraças que experimentamos em nosso país para um outro dia. Vale.
[ínicio: 14/12/2015 - fim: 20/12/2015]
"Café Budapest", Alfonso Zapico, Bilbao: Astiberri Ediciones, 4a. edição (2014), brochura 17x24 cm., 164 págs., ISBN: 978-84-96815-62-9
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