De Alice Ruiz já havia lido um outro livro de haikais. Tratava-se do bom "Desorientais", publicado em 1996, mas que li apenas em 2009 (e no qual ela ainda identificava seus poemas de "hai-kais". Esse "Outro silêncio" é recente, publicado em meados do ano passado. Na apresentação do livro, também assinada por ela, aprendemos quais são as regras de composição desta forma poética: (i) que são sempre três versos e não mais que dezessete sílabas, divididas em cinco sílabas no primeiro e no terceiro verso e sete no segundo; (ii) que a função do primeiro verso é referir-se a uma imagem estática, do segundo instaurar um movimento, um acontecimento e do terceiro algo da evolução deste movimento, mas sem exatamente concluí-lo; (iii) que os haikais só falam de uma coisa: da natureza, descrevem cenas observadas na natureza, nunca das cousas construídas por mãos humanas. Na apresentação Alice Ruiz fala um tanto da história do haikai no Brasil e de seus principais praticantes e divulgadores. Certamente é um ensaio que mereceria uma versão expandida. No livro encontramos setenta e quatro poemas, vinte dedicados a primavera, vinte ao verão, dezesseis ao outono e dezoito ao inverno. O ciclo das estações e dos dias flui pelas páginas, as imagens construídas pela poeta capturam os matizes distintos da paisagem, modificados pelo tempo. O leitor lê cada proposta e pode optar por racionalizar os poemas, desconstruí-los, associá-los a algo de sua memória voluntária ou deixar-se guiar apenas por sua intuição, permitir-se que a memória involuntária os absorva. Interessante (mesmo para a sensibilidade de um intratável e velho senhor como eu).
[início: 29/12/2015 - fim: 31/12/2015]
"Outro silêncio: haikais", Alice Ruiz S., São Paulo: Editora Schwarcz (Boa Companhia), 1a. edição (2015), brochura 14x21 cm., 95 págs., ISBN: 978-85-65771-14-6
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