Só conhecia o Robert Walser da jornada infernal de "Jakob von Guten", que atormentou-me por meses. Já as narrativas de Robert Walser reunidas neste "Absolutamente nada" por Sergio Tellaroli são igualmente tensas, talvez até um bocado mais enigmáticas. Parecem registros de sonhos amalucados, trechos de divagações de difícil entendimento, mas ao mesmo tempo são cheias de vigor e beleza, algo musicais, sempre irônicas, que estimulam o leitor a mil associações e tentativas de compreensão. Registro aqui o livro como de contos, mas as narrativas tem várias vocações distintas. Algumas se deixam ler mesmo como contos, invenções, mas há ensaios filosóficos, esquetes teatrais, discursos, reflexões irônicas sobre a vida e o destino de todos nós, os homo sapiens sapiens. São 41 histórias, produzidas originalmente para jornais e revistas, publicadas entre 1907 e 1929, e reunidas em livro ainda durante sua vida (ele morreu em 1956). As histórias são em geral curtas. Dependendo do tema podemos apenas vagamente inferir se ele está sendo brincalhão ou tentando mesmo apresentar um tema árido com palavras ora simples ora rebuscadas, como se fosse um bufão que apresentasse um seminário formal ou tese. Alguns descrições de caráter lembram coisas do Elias Canetti (como por exemplo aquela série de perfis bizarros traduzida no Brasil por "O todo ouvidos"). Outras parecem transcrições dos diários de homens loucos (ou de um cientista que estudasse homens loucos). Talvez, mais apropriadamente, seja apenas o resultado engenhoso de um autor realmente criativo, inventivo como poucos. Vale.
[início: 15/08/2016 - 21/10/2016]
"Absolutamente nada e outras histórias", Robert Walser, tradução de Sérgio Tellaroli, São Paulo: editora 34, 1a. edição (2014), brochura 14x21 cm., 168 págs., ISBN: 978-85-7326-583-5 [edição original: Sämtliche Werke in Einzelausgaben in zwanzig Bänden, Jochen Greven (org.) (Zürich/Frankfurt: Suhrkamp) 1985-86, after Select Stories / Christopher Middleton (org.) (New York: Farrar, Straus & Giroux) 1982]
Um comentário:
Hmm, penso que não gostaria de ler esse livro, prefiro as historinhas tradicionais com começo, meio e fim. Abração!
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