Foi Sílvia, amiga querida, que lá de sua atrevida Barcelona sugeriu a Helga que comprasse algo do Juanjo Sáez. Juanjo é um quadrinista, roteirista e ilustrador espanhol, ou melhor, catalão (não podemos confundir essas cousas quando falamos de um legítimo barcelonês). Começou em seu ofício com fanzines e revistas alternativas, de arte e cultura. Posteriormente manteve colaborações com jornais e revistas de grande circulação. Desde do início dos anos 2000 publicou quase uma dezena de volumes de antologias de seus cartuns e histórias em quadrinhos (para ele mesmo, que assina uma introdução, trata-se de uma forma de fixar em livro coisas que desapareceriam com os jornais e também uma forma de organizar-se mentalmente). O traço é curioso. Seus personagens não tem olhos, nariz ou boca. Só nos momentos em que experimentam uma forte emoção é que ganham traços de alguma parte da anatomia de seus rostos. Em compensação seus personagens falam, muito, tem opinião sobre tudo, refletem sobre si e o mundo. As histórias reunidas em "Yo, el otro libro egocéntrino" foram publicadas originalmente nos anos 1990 e 2000 (o livro é de 2010). O livro oferece justamente o que o título promete. São histórias centradas no autor, que sempre é um personagem em suas histórias. Ele também faz uso de um alter ego que policia suas ideias, critica continuamente suas escolhas, reclama de sua timidez e inação. Parece uma brincadeira contínua com o shakespeariano fantasma do pai do Hamlet. Como todo bom cartunista ele abusa da ironia e do sarcasmo, nunca edulcora a vida e o comportamento dos homens (nem tampouco utiliza seu traço para fazer proselitismo político, explicitando alguma servidão mental e política a algum grupo - cousa que muitos de seus congêneres brasileiros se orgulham em fazer). Enfim, gostei. Grato Sílvia pela lembrança. Vamos a ver se a encontro (e encontro mais coisas do Juanjo) numa próxima viagem à Espanha. Em tempo (1): Juanjo coloca no Facebook e no Twitter um bocado de ilustrações bacanas. Em tempo (2): Conceitualmente, o estilo de Juanjo lembra as coisas do Angeli, apesar do Angeli não ser nada verborrágico e utilizar-se mais da força de seu traço comparativamente a seu texto. Sei lá. Talvez um teórico dos quadrinhos um dia possa me explicar se essa associação tem algum valor. Vale.
[início: 06/11/2016 - fim: 15/11/2016]
"Yo: El otro libro egocéntrico", Juanjo Sáez, Barcelona: Reservoir Books (Random House Mondadori), 1a. edição (2010), capa-dura 24,5x16,5 cm., 232 págs., ISBN: 978-84-897-2230-4
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