Em "Ascensão" Dirce Waltrick do Amarante enfeixa historietas divertidas, histórias amalucadas. Elas provocam no leitor curiosidade e estranhamento. Algumas parecem conhecidas, cousas que lemos há muito tempo e soam familiares, pois possuem aquela aura de algo que ouvimos de um tio-avô ou vizinho excêntrico, sempre espirituoso e brincalhão. Doze ela chama de "Monólogos". São contos sintéticos, curtíssimos, de um fraseado quase musical, que brincam com a linguagem e flertam com o surrealismo (e que se não são dela podem ser de Borges, de Cortázar, de Jarry, de Tzara, de Breton). Dez são ideias de esquetes teatrais, tão nonsenses quanto os "Monólogos", porém ainda mais concisas e crípticas. Quando as lemos parece que ficamos presos num transe ou sono leve, enfeitiçados ou bêbados, entreouvindo um grupo teatral a ensaiar peças que não conhece muito bem. O livro é fartamente ilustrado com reproduções de um livro de coreografia do início do século XVIII (Chorégraphie, ou L'art de décrire la dance par caractères, de R. A. Feuillet). Os doidos passos de dança indicados por Feuillet parecem sim ser o acompanhamento adequado para as curiosas narrativas da Dirce. A edição é artesanal, muito bacana e bem cuidada. Todo um detalhe. Vale.
[início: 15/12/2016 - fim: 20/12/2016]
"Ascensão: Contos dramáticos", Dirce Waltrick do Amarante, Desterro/Florianópolis: Cultura e Barbárie editora (selo Armazém), 1a. edição (2016), brochura 12,5x21 cm., 96 págs., ISBN: 978-85-63003-37-9
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