Massimo Montanari é um professor universitário italiano, especialista em história medieval e hábitos alimentares. Neste "Histórias da mesa" ele nos apresenta 22 ensaios curtos, que tratam do comportamento dos homens à mesa. O ritual de reunir-se para uma refeição tem regras que evoluíram, passaram por metamorfoses. Não se trata apenas de primeiro contemplar as comidas já preparadas, servir-se delas e depois vê-las descartadas como sobras. O tempo em que nos concentramos na comida fixa um intervalo regular em nossas vidas, mas ao redor da mesa (como antes ao redor do fogo) conversamos, fazemos planos, estabelecemos contratos ou acordos, promovemos a paz e a guerra, cúmplices ou não emitimos sinais hierárquicos uns aos outros, demonstrações sutis ou explícitas de nosso eventual poder, classe, educação, refinamento ou cultura. Os ensaios não são exatamente acadêmicos, antes narram descompromissados causos que revelam padrões de comportamento social. As histórias são apresentados cronologicamente, do século VIII ao século XVII ou XVIII. Algumas lembram parábolas míticas sobre a origem de um determinado item da gastronomia (um queijo, um vinho, uma forma de preparar um assado ou regrar a disposição de convidados à mesa); outras brotam de crônicas judiciais que tratam de velhas disputas entre vizinhos ou grupos por questões gastronômicas (a frequência de uma determinada festividade, o pagamento em víveres por um serviço ou arrendamento, o tipo certo de alimento que alguém devia oferecer); outras ainda registros das habilidades de cozinheiros e das inovações que criaram. Quase todas envolvem um preceito moral, regras dietéticas ou de conduta de um determinado povo, corpo social. Montanari nos ensina que sentar-se à mesa sempre significa outra coisa (alimentar-se é um detalhe); é teatro, espetáculo, evento; que as regras alimentares mudam e os hábitos também. Gostei muito das histórias. A mais divertida delas trata de um ensinamento de Dante Alighieri dirigido à corte de Roberto d'Anjou, rei de Nápoles. Outra, muito interessante, lembra um conto oriental, como aqueles das mil e uma noites, no qual acompanhamos o juízo sobre um cozinheiro tenta cobrar o sujeito que aspirou os vapores (a fumaça) de uma comida preparada por ele. O livro inclui uma detalhada bibliografia dos textos originais utilizados por Montanari para reinventar suas saborosas histórias.
[início: 06/12/2016 - 08/12/2016]
[início: 06/12/2016 - 08/12/2016]
"Histórias da mesa", Massimo Montanari, tradução de Federico Giglielmo Carotti, São Paulo: Estação Liberdade editora, 1a. edição (2016), brochura 16x23 cm., 230 págs., ISBN: 978-85-7448-270-5 [edição original: I racconti della tavola (Bari/Italia: Editori Laterza) 2014]
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