Depois de ler o nono volume da série de Donna Leon dedicada as aventuras de seu comissário Guido Brunetti ("Nada como ter amigos influentes") resolvi ler preferencialmente os demais na ordem cronológica de sua publicação.
O primeiro volume, "Morte no teatro La Fenice", já registrei aqui na semana passada. O segundo é esse "Morte em terra estrangeira". Assim como o anterior não é um romance policial
convencional. O texto é longo, as digressões bem variadas e o desfecho não tem nada de heroico e brilhante, antes verossímil e falho, como na vida real costumam ser os desfechos dos crimes e seus desdobramentos mundanos. Brunetti investiga as circunstâncias da morte de um militar americano em Veneza. O que poderia parecer apenas latrocínio mostra-se algo bem mais complexo e sutil. A história envolve questões ambientais; a presença de militares americanos (milhares deles) em território italiano, como num mundo à parte; as diferenças entre o norte e o sul italiano; a influência da máfia na sociedade; os caminhos do dinheiro e do poder. Os detalhes curiosos da vida de um casal de venezianos, o comportamento de seus filhos adolescentes assim como as reflexões sobre as variantes dialetais da população e as regras de convivência entre as classes sociais dão estofo à narrativa puramente policial, de mistério, que se conduz no livro. A geografia da cidade, o labirinto movente suspenso nas águas, é como um personagem a mais na trama. Os diálogos entre os personagens são muito bons e a descrição do clima, da arquitetura e dos estados de espírito dos protagonistas igualmente bem construídas. Sim, haverá mais volumes desta curiosa escritora em breve. Vale.
Registro #1205 (romance policial #61)[início: 26/07/2017 - fim: 28/07/2017]
"Morte em terra estrangeira (Brunetti #2)", Donna Leon, tradução de Luiz A. de Araújo, São Paulo: Editora Schwarcz (Grupo Companhia das Letras), 1a. edição (2004), brochura 12x18 cm., 339 págs., ISBN: 978-85-359-0585-5 [edição original: Death in a strange country (New York: Harper Collins) 1993]
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