"Múltipla escolha" é uma espécie de acerto de contas de Alejandro Zambra com o Chile de sua infância e juventude, aquele da ditadura de Augusto Pinochet). Vou classificá-lo aqui como romance na falta de uma definição melhor. É um livro totalmente dispensável, que não vale o esforço de ser lido, nem os trinta e poucos dinheiros que se paga por ele. Lixo puro. Há um jogo irônico entre seu livro e a prova de aptidão verbal chilena, modelo de seleção utilizado para ascensão ao ensino superior de lá, entre 1966 e 2002. Tratava-se de um conjunto de testes de múltipla escolha, progressivamente mais longos e complexos (e ambíguos, e irrelevantes, e amalucados). Mas essa ironia, que explicita a estupidez e mediocridade do governo que patrocinava tal processo seletivo, esgota-se logo no primeiro conjunto de testes. O leitor entende o bizarro da coisa e fica a perguntar-se se não há ao alcance da mão um outro livro para dedicar-se a ler. Claro, Zambra não reutiliza os testes reais das provas, ele cria enunciados, conjuntos de asserções, argumentos, silogismos e pequenos contos, onde se fala algo do Chile daquela época (e certamente também sobre o Chile contemporâneo), mas aquilo que resta a ser decifrado no livro não me convenceu nem um pouco. Paciência. Seu livro anterior, de contos, "mis documentos", que é de 2014, já tinha me aborrecido um pouco; seu segundo romance "la vida privada de los árboles", de 2007, era um tédio só; "bonsai", de 2006 e "formas de volver a casa" de 2011, defendem-se bem, mas não são nenhum portento. O livro dele que mais me interessou foi "no leer", de 2012, ensaios poderosos sobre literatura e arte, talvez essa seja mesmo sua boa vocação. Vou esperar um bocado antes de procurar alguma coisa nova dele. E segue o baile, a "Múltipla escolha" só resta ser esquecido em alguma esquina, para que tenha melhor sorte com um outro leitor, um leitor mais generoso do que eu posso ser.
Registro #1208 (romance #325)[início: 22/07/2017 - fim: 01/08/2017]
"Múltipla escolha", Alejandro Zambra, tradução de Miguel Del Castillo, São Paulo: Editora Planeta, 1a. edição (2017), brochura 15x22,5 cm., 112 págs., ISBN: 978-85-422-0829-0 [edição original: Facsímil (Ñuñoa/Santiago/Chile: Editorial Hueders) 2015]
2 comentários:
Eu particularmente não gostei de outro dele, o A vida privada das árvores. Tinha até pretensões futuras de adquiri-lo, mas vou poupar meus "trinta e poucos dinheiros"...
Forte abraço. E obrigado por nos legar análises desprovidas de excesso de sentimentalismo. Vejo muito isso nos propagadores dos livros (em geral, parceiros que recebem livros de presentes das editoras...). Viva a liberdade de ler!
Valeu Paulo. Comprei o livro em um aeroporto, por impulso, sem mesmo abrir (na correria). Quando comecei a ler, já no avião, a surpresa foi grande. bah!, como se diz aqui no sul.
tô esperando tua cartoneira de viagens. depois conversamos. uma de minhas irmãs morou uns tempos em juiz de fora e fiz com ela uma vez um passeio de carro de lá até paraty, mais ou menos o caminho que você deve ter feito de bicicleta. não dá para comparar com a tua experiência, claro. só imagino as maravilhas que você viu.
abraços.
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