No ano passado a editora Carambaia lançou reunidas, num belo projeto gráfico, quatro peças de Henrik Ibsen: "Espectros", "Um inimigo do povo", "Hedda Gabler" e "Solness, o construtor". As peças foram editadas em volumes separados, como se fossem os programas que as vezes são disponibilizados à plateia de um teatro. Acompanhadas de um volume extra, um curto posfácio assinado por Aimar Labaki, as quatro peças foram comercializadas juntas em uma caixa. As li ao longo do primeiro semestre deste ano. Pretendo agora fazer curtos registros separados de cada uma delas. Nunca vi uma montagem de "Hedda Gabler". Labaki nos ensina que já houve quatro montagens brasileiras da peça, a primeira em 1937 e a mais recente em 2006. Os eventos da peça ocorrem em dois dias. No primeiro ato o casal Gabler (Hedda e Jorgen) volta de uma longa viagem de núpcias e se instala em uma grande mansão, mas Jorgen ainda não tem uma posição financeira sólida, pois espera a nomeação para um cargo público em uma universidade. Hedda é uma mulher esnobe, afetada, de temperamento forte; Jorgen é um homem fraco, sonhador, endividado. No segundo ato, Brack, um juiz que é credor de Jorgen, assedia Hedda, e Lovborg, um antigo namorado dela, diz ter produzido um ensaio importante, mas que não ambiciona o cargo pretendido por seu marido. Jorgen, Brack e Lovborg saem para festejar, enquanto Hedda fica conversando com uma amiga, Thea, que é casada mas está enamorada de Lovborg e trabalha como sua secretária. No terceiro ato acompanhamos retrospectivamente descrições do tumultuado festejo noturno do qual participaram Jorgen, Brack e Lovborg, no qual esse último deu-se conta de ter perdido seu manuscrito. Hedda, sabe-se lá por qual razão (tédio, cupidez, vingança, estratégia, pura maldade), induz Lovborg a cometer suicídio e queima seu manuscrito. No quarto ato acompanhamos o desfecho da trama. Após o anúncio da morte de Lovborg, Hedda passa a ser chantageada por Brack, que sabe ser dela a arma utilizada por Lovborg para matar-se. Jorgen e Thea tentam reescrever o importante manuscrito, como homenagem ao amigo morto. Hedda, em transe, sabendo-se pela primeira vez incapaz de controlar seu destino e fazer valer suas vontades, comete também o suicídio. Deve ser uma experiência poderosa ver a peça encenada. Ibsen nos faz refletir sobre o alcance de nossos desejos, sobre a psique de homens e mulheres, sobre as relações de poder às quais estamos todos enredados. Haverá mais Ibsen por aqui. Vale!
Registro #1299 (drama #14) [início: 04/03/2018 - fim: 06/03/2018]
"Hedda Gabler: Peça em quatro atos, 1890", Henrik Ibsen, tradução de Leonardo Pinto Silva, São Paulo: Editora Carambaia, 1a. edição (2017), brochura 17x24 cm., 116 págs., ISBN:
978-85-69002-33-8 [edição original: Hedda Gabler (London: William Heinemann) e (Copenhagen / Christiania: Gyldendalske Boghandels Forlag) 1890]
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