Nunca havia lido nada de Guido Viaro, escritor paranaense de mais ou menos cinquenta anos. Neto de um outro Guido Viaro, respeitado artista plástico ítalo-brasileiro modernista, o Guido Viaro escritor é autor de 15 romances, publicados desde 1998. "O Princípio da Incerteza" gravita o mundo dos livros, do ofício de escrever, do legado possível que qualquer vida oferece, da memória, da eventual imortalidade que o ato de escrever confere a personagens e autores, indistintamente. Na trama, Félix Aéras, um professor de filosofia universitário de quase sessenta anos, oscila entre seus planos de aposentadoria, o péssimo hábito de se envolver com mulheres mais jovens e problemáticas, seu desejo de tornar-se escritor. No livro vários registros se superpõem, ou melhor, lentamente se fundem: a história do narrador, que pode ou não ser Aéras, que quer aposentar-se e escrever livros, especialmente um que emule uma espécie de autobiografia do universo; a do compositor Robert Schumann, no exílio da loucura em seus anos finais, como personagem de um livro não publicado escrito por um amigo do narrador; a de Jacques Coeur, um comerciante francês do século XV, que no livro tornou-se imortal e aproxima-se de Aéras; a de Clara Castang, amante de Aéras e também uma personagem inventada por ele. Destes incertos registros, usando metaforicamente o Princípio da Incerteza do título, conceito fundamental da Física Quântica, Guido Viaro oferece ao leitor reflexões muito interessantes sobre a passagem do tempo, as imortalidades que existem na mente, no mundo fantástico, na literatura, identifica a morte como esquecimento. Lê-se "O Princípio da Incerteza" como se fosse um romance policial, em que pistas falsas são espalhadas pelo volume, aguçando a curiosidade do leitor. Bom. Vou procurar mais cousas deste curioso escritor. Vale!
Registro #1449 (romance #364) [início: 27/07/2019 - fim: 03/08/2019]
"O Princípio da Incerteza", Guido Viaro, Curitiba: Editora Insight,
1a. edição (2019), brochura 15x21 cm., 210 págs., ISBN:
978-85-62241-71-0
Um comentário:
Deu vontade de ler, mas quem como Guina Medici, esse devorador de volumes?
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