sábado, 12 de outubro de 2019

siete cuentos morales

Neste volume estão reunidas sete histórias curtas (quatro delas curtíssimas, coisa de quatro ou cinco páginas). "El perro" trata dos encontros tensos entre um cão e uma jovem ciclista, que não aceita a natureza feroz de seu antagonista; "Una historia" conta algo sobre uma mulher que trai sistematicamente seu marido, todas as vezes em que ele viaja, mas que não associa sua traição a ausência de amor ou carinho por ele; "Vanidad" retrata a censura que os filhos de uma velha senhora fazem de seu corte de cabelos, para eles moderno demais, não compatível com a idade dela; "Una mujer que envejece" conta as preocupações de dois filhos sobre a saúde e o destino da mãe, num encontro em que todos estão longe de casa, praticamente estranhos uns aos outros;  "La anciana y los gatos" trata do choque que as escolhas de uma velha senhora, que mora em uma cidadezinha isolada no sul espanhol, provoca em seu filho cosmopolita e prático, que não comunga das escolhas morais de sua mãe; em "Mentiras", um conto epistolar, um filho escreve a sua mulher sobre o acidente sofrido pela mãe, e das providências que é obrigado a tomar. No último conto, "El matadero de cristal", dividido em seis partes curtas, uma senhora pensa na possibilidade de provocar reflexão e eventualmente mudar a opinião dos cidadãos seus contemporâneos sobre os rituais de criação e abate de animais, assim como o consumo da carne, algo para ela condenável. Nos sete contos a figura da velha senhora sempre parece ser Elizabeth Costello, uma personagem conhecida dos leitores de J.M. Coetzee. Ele, que recebeu o prêmio Nobel de literatura em 2003, a fez aparecer pela primeira vez em "A vida dos animais", publicado em 1999, depois em "Elizabeth Costello", em 2003 e também em "Homem lento, em 2005. A Costello personagem é uma escritora de opiniões fortes, provocante até a exasperação, que sempre se posiciona, discute temas complexos, como a vida dos animais, a censura e a fé, filosofa sobre a sexualidade, a moral e o mal entranhado nas pessoas. Além do veganismo Coetzee faz seus personagens digressar também sobre o ofício de escrever ficção, a velhice, a relação entre pais e filhos, o destino, o amor e o dever, refletir sobre as consequências de nossas decisões, da dificuldade de topar partido em questões éticas no dia a dia. "A vida não se resume a uma eterna sucessão de criação e solução de problemas", afirma a senhora Costello, em uma das histórias de Coetzee. Talvez esta frase resuma as questões morais discutidas nos sete contos. Nós, homo sapiens, devemos fazer valer mais o nosso tempo de vida, os dias que nos cabem. Sempre provocador o velho e bom Coetzee. Em tempo. Consegui encontrar links para gravações onde o próprio Coetzee lê "El perro",  "La anciana y los gatos" e "El matadero de cristal". Achei também links para o texto original de dois contos: "Una mujer que envejece" e "Mentiras" (publicados anteriormente na revista americana The New York Review of Books). "Una historia" e "Vanidad" parecem ser singularmente inéditos, mesmo em inglês. Vale! 
Registro #1458 (contos #167) 
[início - fim : 25/09/2019]
"Siete cuentos morales", J.M. Coetzee, tradução de Elena Marengo, Barcelona/Buenos Aires: El Hilo de Ariadna (Penguin Random House Grupo Editorial), 3a. edição (2019), brochura, 13,5x22,5 cm., 123 págs., ISBN: 978-84-397-3466-6 [edição original: Moral Tales 2017]

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