Arturo Pérez-Reverte parece correr contra o tempo. Ele tem 68 anos, começou a publicar livros em 1986, quando tinha 35 anos, boa parte deles dedicados ao jornalismo, como correspondente de guerra. De 1986 para cá publicou 34 livros, entre romances e compilações de suas fantásticas crônicas semanais. É uma produção incrível, algo mais de um livro publicado por ano. Não conheço outro autor que publique tanto assim, sobretudo mantendo qualidade nos textos (já registrei aqui um bocado deles: a série do Capitão Alatriste; a série Falcó; sua História da Espanha e tantos outros. Há poucos dias ele lançou seu livro mais recente: "Sidi: un relato de frontera", um romance histórico. Trata-se de uma versão romanceada de parte da vida de Rodrigo Díaz de Vivar, el Cid campeador, cavaleiro castelhano que viveu na segunda metade do século XI. Sua vida tornou-se lendária e, após os quase mil anos que separam seu nascimento (em 1048, em Burgos) ou morte (em 1099, em Valência) de nossos dias, é difícil saber da veracidade dos muitos dos acontecimentos que são usualmente associados a ele. O poema "Cantar de mio Cid", escrito no início do século XIII, confere aura épica aos feitos de Rodrigo de Vivar, associando-o à reconquista cristã da Península Ibérica e fundação do Reino de Castela. Certamente, à vida do homem Rodrigo de Vivar camadas de invenção foram acrescentadas progressivamente ao longo dos séculos. Os sucessos contados no romance de Pérez-Reverte vão de 1080 a 1084, período em que El Cid, após ter sido desterrado de Castela pelo rei Alfonso VI, oferece seus serviços como guerreiro ao rei muçulmano da taifa de Zaragoza, al-Mutamán, e luta contra os reis cristãos de Navarra e Aragón, e também contra o conde de Barcelona. Por isto mesmo, devemos esperar pelo menos mais uns dois volumes, que contem as conquistas de El Cid nos últimos quinze anos de sua vida (sabe-se que ele tornou-se soberano da região de Valência, formalmente ainda vassalo dos reis de Castela, mas com suficiente autonomia para entendê-lo senhor completo do lugar). Lê-se o livro num sopro. A prosa de Pérez-Reverte é ágil, os acontecimentos se sucedem, arrebatando o leitor. As imagens que ele cria são sempre cinematográficas, como as de uma primeira versão de um roteiro de algo que se pretende adaptar para a linguagem do cinema. O vocabulário de Pérez-Reverte é rico, cheio de mimos para o leitor. De resto, acompanhamos os movimentos bélicos e diplomáticos do Sidi ("Senhor", em árabe) como quem lê um romance policial, lemos seus diálogos, cheios de humor e ironia, como se estivéssemos a conversar com um velho senhor, que lembra de acontecimentos de sua juventude. Diversão garantida. Vale! Em tempo: Esse volume foi lançado na Espanha no último 18 de setembro, uma quarta-feira. Comprei na Casa del Libro espanhola e o recebi, via DHL, na manhã da terça-feira 24 de setembro (isto porque dia 20/09 foi feriado no Rio Grande do Sul, prejudicando um tanto a logística). Que maravilha é ser bem servido por empresas realmente sérias e comprometidas com seus clientes. Evoé.
Registro #1461 (romance #369) [início: 24/09/2019 - fim: 08/10/2019]
"Sidi: un relato de frontera", Arturo Pérez-Reverte, Barcelona: Alfaguara / Penguin Random House Grupo Editorial, 1a. edição (2019), brochura 15,5x24,5 cm., 373 págs., ISBN:
978-84-204-3547-3
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