domingo, 28 de março de 2010

oscar wao

Soube deste livro por recomendação de duas pessoas cuja opinião respeito muito: Sibele Andreoli e Luiz Schelp. Trata-se de um livro que ganhou o prestigioso prêmio Pulitzer de 2008 e onde se conta ficcionalmente um pouco da história da República Dominicana. Este desgraçado país é vizinho do Haiti e com ele divide um passado de misérias tanto no período colonial quanto naquilo que deveria ser chamado de período de independência, de democracia, mas que é apenas um contínuo período ditatorial, onde um dos canalhas de plantão governa com maior ou menor sanha. O ditador retrado aqui é Rafael Trujillo, um possesso que não fica nada a dever a seus contemporâneos Papa Doc, Fidel Castro, Augusto Pinochet. Se nos textos de Alejo Carpentier que li recentemente aprende-se muito sobre o Haiti neste temos um panorama da República Dominicana bastante vívido, apesar de terrível, opressivo, cruel. Dois narradores se alternam em contar a história de um jovem dominicano, Oscar Leon. Um é seu cunhado, Yunior, e outro é sua irmã, Lola. O livro é dividido em capítulos temáticos. No primeiro Yunior conta os dias de Oscar como um estudante nerd em um colégio nos Estados Unidos. Gordo e algo inepto, não consegue se relacionar com nenhuma garota. No segundo é Lola quem dá sua versão deste período, tentando enquadrar melhor a obsessão de seu irmão com o sexo que não consegue ter. No terceiro capítulo somos levados ao passado e acompanhamos a história da mãe de Lola e Oscar, seus amores, suas desventuras, sua luta para sobreviver em um país violento por natureza. Na sequência voltamos aos dias de Oscar e Yunior na universidade, onde a impossibilidade de Oscar se envolver sexualmente com alguém continua, o que afeta todos os demais aspectos de sua vida. No quinto capítulo voltamos uma vez mais para o passado e desta vez sabemos a história dos avós de Oscar e Lola. O pai é um médico de sucesso, ligado a elite cultural de seu país (e ao mesmo tempo ligado a aquela fração da sociedade que finge não ver os desmandos do governo, algo que vivemos agora mesmo no Brasil em alguma medida). Ele tem sua vida arruinada pela cupidez do ditador Trujillo, quando recusa a este a oferta da virgindade de uma de suas filhas. As filhas maiores e a mulher morrem miseravelmente, enquanto ele padece décadas de uma prisão brutal, onde enlouquece lentamente. A filha caçula (que ele não chega a conhecer) virá a ser a mãe de Oscar e Lola, e como o pai sofrerá nas mãos dos ditadores dominicanos que sucedem Trujillo após seu assassinato (provavelmente orquestrado por espiões americanos). Nos capítulos finais acompanhamos como Oscar, deslocado na sociedade americana, onde dá aulas e escreve ilegíveis romances de ficção científica, decide permancer na República Dominicana após umas férias e acaba se apaixonando por uma mulher mais velha. O namorado desta mulher dá surras épicas em Oscar, mas este não se rende a sua vontade de consumar enfim um intercurso sexual. Após uma primeira surra é levado de volta aos Estados Unidos para se recuperar, mas com o tempo ele finalmente retorna e encontra a morte nas mãos do sujeito. Em um epílogo ficamos sabendo que em uma carta a sua irmã e cunhado ele conta como finalmente conseguiu transar com a namorada (mesmo sabendo que seria morto depois). O livro inclui várias notas, onde o autor explica os fatos da história dominicana, com um sarcasmo que ameniza um tanto as desgraças pelas quais este país passou e passa. O tema principal deste livro é mesmo a luta humana entre a pulsão do sexo e a pulsão da morte. Há várias passagens memoráveis, como as surras no meio de canaviais (difícil saber qual a mais cruel, a que sofre a mãe de Oscar ou aquela que Oscar sofre anos depois). Ao mesmo tempo há muito humor no livro, muitas citações da cultura pop, de livros e filmes, enfim, muita coisa para se pensar com calma, para se refletir um tanto sobre a alma humana. Este é mesmo um grande livro. [início 17/03/2010 - fim 20/03/2010]
"A fantástica vida breve de Oscar Wao", Junot Díaz, tradução de Flávia Anderson, editora Record, 1a. edição (2009), brochura 14x21 cm,332 págs. ISBN: 978-85-01-08180-3

2 comentários:

C. Vieira disse...

Olá, Aguinaldo, o blog Dominus em parceria com a Loja do Altivo estará sorteando o livro O Último Trem Para Istambul de Ayse Kulin. Participe!
http://dominus-dominique.blogspot.com/2010/03/loja-do-altivo-dominus-enviam-o-ultimo.html

Um abraço pra ti!

Bruno M. Oliveira disse...

Quero muito ler o romance, mas o preço está "salgado". Vou ver se o encontro mais em conta em algum sebo.

Parabéns pelo blog. Um abraço!