Mais que culinária e receitas esse pequeno livro serve-se como registro antropológico de um tempo. Já na apresentação, assinada pelo antropólogo Raul Lody, aprendemos que vamos ler sobre as memórias e permanências de uma Bahia africana em receitas e sabores. E é isso mesmo que encontramos. São notas breves, que descrevem como cada prato deve ser preparado e consumido, mas acrescentam algo mais ao leitor. Manuel Raimundo Querino foi líder abolicionista, um dos pioneiros na defesa da cultura africana no Brasil e autor de vários livros. Nesse seu "A arte culinária na Bahia", publicado postumamente, em 1928, encontramos notas que sempre são concisas e sintéticas sobre os alimentos especificamente africanos de nosso culinária, notas que dão noções de como é o sistema alimentar na Bahia (no sentido em que descreve as circunstâncias em que cada prato foi incorporado ao dia a dia das pessoas). Querino dá atenção especial aos licores e às sobremesas. A edição é bem cuidada, com um papel brilhante que valoriza o conteúdo, ilustrações não exatamente padronizadas e um bom prefácio. Há demasiado etnocentrismo nos textos (principalmente no prefácio), mas isso não estraga o prazer de acompanhar a leitura. [início 12/09/2011 - fim 29/09/2011]
"A arte culinária da Bahia", Manuel Querino, São Paulo: editora WMF Martins Fontes (3a. edição) 2011, brochura 14x18, 86 págs. ISBN: 978-85-7827-325-5
[edição original: Salvador: Livraria Progresso Editora, 1928]
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