terça-feira, 4 de outubro de 2011

todo começo é involuntário

Em "Todo começo é involuntário" encontramos trabalhos de trinta e cinco poetas, organizados e selecionados por Claudio Daniel. Demorei meses para terminar esse livro, mas foi de caso pensado, não por tédio ou preguiça. Digo isso pois as impressões e o eventual impacto que uma série de poemas  de um autor me provocavam teimavam por ecoar na leitura dos trabalhos subsequentes, como se houvesse um ruído de fundo em todo o livro. Foi por conta disso que interrompi diversas vezes a leitura, um tanto para esquecer dos nomes dos autores e dos poemas (esquecer como Beckett, falando sobre Proust, nos ensinou: "O homem que nunca se esquece de nada, nunca se lembra de nada"), e um outro tanto para deixá-los comigo sem tanta intoxicação, para livrá-los da eficácia efêmera de uma leitura feita às pressas. O organizador, Claudio Daniel, que é poeta, tem por franco acaso o sobrenome de um grande poeta, assina dois ensaios (uma boa apresentação e um bom posfácio) mas não incluiu nada seu - correto ele afinal de contas. Daniel incluiu também uma breve biografia de cada um dos autores que escolheu. São trinta e cinco poetas, que contribuem, cada um, com um punhado de sua produção. Dezessete são mulheres (Adriana Versiani, Adriana Zapparoli, Ana Maria Ramiro, Andréa Catrópa, Camila Vardarac, Carol Marossi, Daniela Osvald Ramos, Florbela de Itamambuca, Gabriela Marcondes, Greta Benitez, Izabela Leal, Jacineide Travassos, Lígia Dabul, Marília Kubota, Micheliny Verunschk, Simone Homem de Mello, Virna Teixeira). Dezoito são homens (André Dick, Carlos Besen, Daniel Sampaio de Azevedo, Danilo Bueno, Delmo Montenegro, Diego Vinhas, Donny Correa, Douglas Diegues, Eduardo Jorge, Leonardo Gandolfim, Marcelo Montenegro, Marcelo Sahea, Márcio-André, Niccolas Ranieri, Pablo Araújo, Rodrigo de Souza Leão, Sérgio Medeiros, Thiago Ponce de Moraes). Quase nada sabia da maioria deles antes de encontrar esse livro. Talvez não seja em uma antologia assim a melhor forma de conhecer um poeta novo. Como em qualquer seleção dessa natureza há uma certa heterogeneidade no que é oferecido. São poemas em prosa, quase aforismos, poesias visuais, elegias, sonetos, versos brancos, versos que não sei classificar (se é que isso é necessário). Alguns são de pessoas realmente jovens, outros já quarentões (isso é irrelevante, sei, afinal só mesmo no Brasil é possível se imaginar uma lei - como a recentemente aprovada no congresso - que define o final da juventude a anódinos 29 anos, mas serve para ilustrar que estamos falando de trinta e cinco sujeitos bem diferentes entre si). Alguns me pareceram bissextos, mas quem sou eu para pontificar. Vez ou outra intui uma influência, uma relação entre precursores e epígonos, mas são poucos os poemas de cada um para se fazer o censo correto deles todos. São afinal, antes as diferenças que as afinidades que possibilitaram a reunião desses poetas. A única síntese possível afirmar que não é possível um síntese. [início 03/05/2011 - fim 27/09/2011] 

"Todo começo é involuntário: a poesia brasileira no início do século 21", Claudio Daniel (organizador), São Paulo: Lumme editor, 1a. edição (2010), brochura 15x23 cm, 323 págs. ISBN: 978-85-62441-39-4

3 comentários:

marcelo sahea disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
marcelo sahea disse...

Uma das suas resenhas que mais me deixou curioso! Vamos hablar, sim. aBrossas!

Aguinaldo Medici Severino disse...

pois um dia então.
conversamos.
putabraços.