De Angeles Mastretta só conhecia "Arranca-me a vida", uma reflexão ficcional interessante sobre a complexa sociedade mexicana. Noutro dia encontrei esse pequeno "Dones", da boa coleção "Mini letras" da H.A. Kliczkowski, e não hesitei em comprá-lo. São sete contos curtos, que não foram escritos na mesma época (há coisas de 1986 e outras de 1993), mas que encontram uma unidade nesse livro. Os contos falam de dons que são particularmente caros às mulheres, segundo a abordagem de Mastretta. Ela inventa histórias suaves, sensíveis, mas não piegas. Em uma fala da facilidade de alguns em conversar; em outra do poder que a linguagem tem, para o bem e para o mal, para ferir e para consolar; em uma terceira descreve como aprendemos a chorar e a esquecer de chorar (um provérbio judaico diz que deus conta as lágrimas das mulheres, é sempre bom lembrar). Mastretta também fala da beleza, da experiência e do medo que todos temos com a passagem do tempo; noutra história fala de uma avó e suas agruras na revolução mexicana, seus disfarces, sua coragem. Uma das histórias descreve a carta italiana de uma improvável amante de seu pai. Seria um affair ligeiro dos tempos da segunda grande guerra ou algo mais sério? A última história fala que devemos por vezes esquecer é fundamental, tanto as dores e os problemas quanto os medos e os aborrecimentos. Se possível até a realidade, antes de sucumbir. Parece bobo, mas não há nada de artificial ou canhestro nas histórias. Talvez os gloriosos brasileiros e brasileiras que se dedicam a produzir livros ligeiros de auto-ajuda poderiam se inspirar em uma autora com mais tino e estofo como parece ser o caso de Angeles Mastretta. Vamos em frente. [início 27/09/2011 - fim
28/09/2011]
"Dones", Angeles Mastretta,
Madrid: editorial Hugo Kliczkowski - Onlybook, 2a. edição (2006) brochura 13.5x20cm, 64 pág. ISBN: 978-84-96304-78-7
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