No último 12 de janeiro, véspera do dia em que celebravamos os 72 anos da morte de James Joyce, recebi três livros que tratam de sua obra. "Dublinés", o primeiro deles que li, é uma graphic novel, muito bem editada pela Astiberri, excelente editora sediada no País Basco. O autor é um jovem e premiado asturiano, Alfonso Zapico, que nos últimos anos vive e trabalha na cidade francesa de Angoulême, conhecida por sediar anualmente um grande festival de quadrinhos. O tema dificilmente não poderia ser mais caro a mim: uma biografia de James Joyce. O resultado é muito bom. O livro é confessadamente inspirado na robusta biografia de Joyce assinada por Richard Ellmann, mas usa também informações de uma outra história em quadrinhos, o engraçado Joyce para principiantes (de David Norris e Carl Flint), além de dois outros bons livros repletos de ilustrações (James Joyce's Ireland, de David Pierce, e Faithful Departed, de Kieran Hickey). O livro de Zapico oferece ao leitor um panorama bastante rico e detalhado sobre a vida e a obra de Joyce. Dublinés (que em português é dublinense, no singular, gentílico que Zapico adota provisoriamente para escrever e desenhar sua história) é bem dividido em seis capítulos temáticos, onde descreve cronologicamente (i) a vida familiar e os antepassados de Joyce; (ii) sua infância e juventude em Dublin; (iii) seu encontro com Nora Barnacle e saída da Irlanda; (iv) os tempos de exílio e pobreza em Trieste; (v) os anos em que viveu em Paris, até a publicação do Ulysses e (vi) os conturbados anos onde alcança grande reconhecimento, divide-se entre a produção do Finnegans Wake e a esquizofrenia de sua filha Lúcia. Certamente um leitor interessado em conhecer algo sobre James Joyce encontrará informações valiosas neste livro. Só encontrei um erro realmente importante, aquele em que Zapico grafa como 02 de dezembro de 1921 o dia em que Joyce recebeu o primeiro exemplar do Ulysses (quando a data certa é o dia de aniversário de Joyce, 02 de fevereiro de 1922). Mas esse é um detalhe besta. O livro reúne um número significativo dos causos que frequentemente são associados à Joyce, com leveza e um tanto de ironia. Não se trata de um compêncido de datas e fatos, mas uma reflexão realmente particular sobre o universo joyceano. O traço de Zapico é agradável, nada poluído ou pesado, parece que ele usa sempre sutis efeitos de aquarela nas ilustrações. Haverá muito mais James Joyce por aqui. E isso é muito bom.
[início: 13/01/2013 - fim 16/01/2013]
"Dublinés", Alfonso Zapico, Bilbao: Astiberri ediciones, 1a. edição (2011), capa-dura 18x24,5 cm, 232 págs., ISBN: 978-84-15163-04-6
Nenhum comentário:
Postar um comentário