Conheci Hugo Crema virtualmente,
através de uns bons e-mails e de eventuais conversas cifradas típicas do
twitter. Discutimos sobre a literatura brasileira contemporânea,
jornalismo, crítica, tonterias sobre a Espanha e, claro, sobre
literatura espanhola, cousa que ambos apreciamos muito. Quando li seu "Finisterra"
não fiquei realmente surpreso, pois sabia que se tratava de um sujeito
que conhece seu ofício, apesar de ser ainda um bocado jovem (os jovens
costumam ter todos os defeitos de velhos como eu, acrescidos por um
outro, certamente dominante: o da inexperiência). Bueno. Depois li
contos dele publicados no e-book "O cachorro provisório",
igualmente bons. Sobre a trama de "Finisterra" prefiro falar pouco,
pois Saulo, Nilza e Vivianne são personagens que devem se apresentar
sozinhos (não há porque ser eu quem quebre o encanto que a primeira
leitura do livro provoca). Só acresento o que já disse a ele meses
atrás: A Finisterra
geográfica, ponto mais ocidental das escarpas ondulantes da Galícia, na
Espanha, é um ponto de chegada. Já a narrativa compacta e segura de Hugo Crema
nesse seu "Finisterra" parece ser um surpreendente
porto de partida. O romance cobra atenção e engenho do leitor, mas o recompensa
com algo realmente arrebatador. Não há artificialismos no texto, as digressões são
estimulantes, os diálogos vívidos. A narrativa, técnica e precisa, denuncia um
sujeito que já leu muito e que sabe contar com originalidade uma boa história.
Hugo parece desafiar seus leitores a se aproximar, sem interferências, de seus
protagonistas. Se na Finisterra
geográfica é a vastidão do mar e seus ruídos que consolam o viajante, no "Finisterra" literário de Hugo Crema o que
assombra e seduz o leitor é a contenção, aquilo que não é dito, o silêncio duro
das coisas. Olho, temos aqui um bom livro e um bom escritor.
[início 28/12/2012 - fim 02/01/2013]
"Finisterra", Hugo Crema, Rio de Janeiro: editora Baluarte,
1a. edição (2012)
brochura
14x21cm, 108 pág. ISBN: 978-85-66031-10-2
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