Nesse pequeno livro encontramos nove dentre as centenas de ensaios, crônicas e resenhas literárias que Virginia Woolf produziu em sua atividade profissional como jornalista (na apresentação está registrado que suas obras completas reúnem mais de 3000 páginas). São textos muito especiais, recolhidos por um reconhecido especialista, Tomaz Tadeu da Silva. Dois deles li recentemente numa outra seleção de textos dela, o bom "O valor do riso". Os ensaios são muito bem escritos, uns mais objetivos, focados em uma pessoa (Montaigne, Leslie Stephen - seu pai) ou numa arte (a leitura, a pintura, o cinema); outros mais insinuantes, vagos, poéticos, onde ela trata de variadas experiências sensoriais (seja como flâneur pelas ruas de Londres ou abatida por uma forte gripe, seja como observadora de um eclipse ou do anoitecer no campo inglês). Virginia Woolf sabe ser irônica, convida o leitor a refletir com calma sobre suas opiniões. Há vezes em que parece piscar o olho, como se estivesse partilhando um segredo conosco. Dos nove ensaios meus favoritos são "Anoitecer sobre Sussex", que lembra muito aquela passagem de Proust na qual o narrador descreve o assombro que experimenta ao ver de longe, da janela de uma carruagem, os campanários da igreja de Martinville (Virginia, mais moderninha, faz algo parecido da janela de um automóvel) e "Sobre estar doente", um texto mais longo, que parece ter sido escrito mesmo por alguém intoxicado, debilitado, fraco fisicamente porém ainda alerta intelectualmente, como acontece quando restamos prostrados por um infecção qualquer. É o tipo de livro que o leitor não precisa ler de uma vez, mas sim deixar sempre à mão, para poder, num dia de tédio e chuva, alcançar uma alegria, partilhar uma epifania. Vale.
[início: 31/03/2016 - fim: 05/05/2016]
"O sol e o peixe: prosas poéticas", Virginia Woolf, tradução e seleção de Tomaz Tadeu, Belo Horizonte: editora Autêntica, 1a. edição (2015) capa-dura 14x21,5 cm., 112 págs., ISBN: 978-85-8217-487-6
Nenhum comentário:
Postar um comentário