Neste pequeno livro estão reunidas sete histórias curtas, sete causos. Todos têm algo de invenção e muito de memória, fundidos com competência por um sujeito que sabe bem seu ofício. Andrea Camilleri publicou-os originalmente entre 1995 e 2000 em um folhetim, o "L'Almanacco dell'Altana". O tradutor espanhol enfatiza o rico uso que Camilleri faz das variedades linguísticas sicilianas (algo obviamente perdido na tradução, mas que o leitor que conhece italiano pode conferir no link do L'Almanacco que transcrevi acima). Há um clima vago em todas elas, como se saíssem de livros de Borges ou Umberto Eco. A história mais antiga dá conta de acontecimentos de 1919 e mesmo a mais recente fala apenas de coisas do pós segunda grande guerra. Se a geografia siciliana define o cenário delas, os assuntos são variados. O leitor encontra um velho mafioso que discursa sobre seus tempos de glória e a eficiência calma de suas ações; conhece um extravagante médico que ensinou o narrador a amar os livros; acompanha uma procissão pagã que acontece em Agrigento em homenagem a são Calógero; ri do relato dos sucessos entre comunistas, monarquistas e democrata-cristãos em um domingo de Páscoa; investiga junto com o narrador como um sujeito fugiu de uma cidade durante uns festejos paroquianos; contrasta a moral de um ladrão contemporâneo com aquela dos velhos mafiosos; descreve a amizade de dois sujeitos que criaram uma modesta revista literária nos anos 1920. Segundo consta na apresentação do livro parte desses textos foram reutilizados em romances de Camilleri. Quem sabe um dia encontro com eles novamente. Vale.
[início:23/06/2016 - fim: 05/07/2016]
"Gotas de Sicilia", Andrea Camilleri, tradução de David Paradela López, Madrid: Gallo Nero ediciones, 1a. edição (2016), brochura 11x16 cm., 108 págs., ISBN: 978-84-1652925-4 [edição original: Gocce di Sicilia (Roma: Edizioni dell'Altana) 2001]
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