Foi o Galindo quem primeiro me falou do Pellanda, dizendo ser ele o bom cronista de sua Curitiba. Procurei por aí e fui garimpando o ouro fino que ele publica (encontrei primeiro o "Nós passaremos em branco", depois "O macaco ornamental" e por fim o "Asas de sereia"). "Detetive à deriva" foi lançado há poucas semanas. Reúne 68 crônicas, quase todas publicadas originalmente no jornal Gazeta do Povo. São crônicas recentes, de 2015, 2014 e 2013. O leitor não precisa ler muitas delas para se enredar nos feitiços do cronista e passar a acompanhar seu olhar e argumentos. Pellanda sabe controlar bem aquela ambiguidade típica das boas crônicas, onde pouco importa a veracidade ou exageros do registro, antes sim a qualidade do narrado, as imagens, alegorias e símiles que o artífice cria. Ele é um sujeito de hábitos, sempre o fiel camareiro de quem trabalha com prazos. Suas crônicas respondem a estímulos, poderiam ser organizadas em séries: há aquilo que se vê do terraço de seu apartamento, na parte central de Curitiba; há os sucessos das caminhadas com a filha pelas ruas, quando a leva para a escola; há o curioso que interage com as esfinges urbanas, os bêbados, drogados, loucos, notívagos e desesperados da cidade; há o escritor que reflete sobre a natureza de seu ofício, seus truques, influências, limites; há o sujeito que herdou uma sutil consciência ecológica, que o faz olhar sempre para árvores, animais ou pássaros; e, mais raramente, há o turista que viaja ou passa férias nas praias de Guaratuba, seja inverno ou verão. Ainda vamos descobrir que o Pellanda é um bruxo da Ébano Pereira que tem alma de poeta, e dos bons.
[início: 11/08/2016 - fim: 19/08/2016]
"Detetive à deriva", Luís Henrique Pellanda, Porto Alegre: Arquipélago editorial (coleção 'A arte da crônica'), 1a. edição (2016), brochura 14x21 cm., 224 págs., ISBN: 978-85-60171-76-7
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