sexta-feira, 28 de abril de 2017

veneza, um interior

Um ano ser ler ou reler Javier Marías é um ano perdido. Quando soube que a editora portuguesa Relógio D'água havia reeditado algo antigo do Marías não perdi tempo e logo encomendei o livro. Nele estão incluídos dois mimos, crônicas que falam de Veneza e dos venezianos. Ambas foram publicadas originalmente em jornal e depois reunidas em livros. A mais recente é "O que cada um leva consigo", que  foi publicada em 2009 na revista El País Semanal (e depois incluído na coletânea "Ni se les ocurra disparar"). Nela Marías fala dos cinco anos em que viveu em Veneza, dos livros que lá escreveu, de sua rotina e das amizades que fez. Fala sobretudo sobre o tempo, sobre como o espaço é o depositário do tempo, o suporte de nossas lembranças (como Proust já nos ensinou). Sempre um frasista cativante, Marías diz "que só se perde realmente aquilo que esquecemos ou rejeitamos, o que preferimos apagar e já não queremos conosco, o que não fica incorporado na vida que contamos a nós próprios". O texto mais antigo, "Veneza, um interior", é um longo ensaio, tão robusto e bem escrito quanto completo. Um paradoxo, pois milhares de páginas e imagens podem ser escritas sobre a cidade sem esgota-la, porém Marías alcança no familiarizar com ela, sem ser pedante ou detalhista. Foi publicado em capítulos no jornal El País, em 1988 (e depois incluída na coletânea "Pasiones pasadas"). Nele acompanhamos as deambulações e digressões de Marías, com calma, atenção, encantamento. Ele fala das gentes e das ilhas, da luz e da noite, dos pintores e arquitetos; conta causos curiosos, entretêm o leitor transportando-o em transe para as pedras daquela cidade flutuante. Ah!, um sujeito não pode nunca se cansar de Veneza. Procurando, encontrei algo que compartilho com os leitores curiosos: o texto completo de "Veneza, un interior", que pode ser acessado aqui. Bom divertimento. 
[início -  fim: 11/04/2017]
"Veneza, um interior", Javier Marías, tradução de José Bento (Venecia, un interior) e Manuel Alberto (Lo que uno lleva consigo), Lisboa: Relógio D'Água Editores, 1a. edição (2016), brochura 13x20 cm., 57 págs., ISBN: 978-989-641-685-0 [edição original: El País, 22, 23, 24, 25 e 26 de agosto de 1988; El País Semanal, 14 de junho de 2009]

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