terça-feira, 25 de junho de 2019

mañana tendremos otros nombres

Patricio Pron é argentino, tem pouco mais de quarenta anos, está radicado em Madrid há uma década pelo menos e já publicou bastante (é autor de mais de oito romances e seis volumes de contos). "Mañana tendremos otros nombres" é seu romance mais recente, recebeu o "Prêmio Alfaguara de novela de 2019". Foi Glória, amiga querida, quem fez menção a esse autor e esse livro, num dia mágico ali em Porto Alegre, dia que sempre deveria ser repetido, ai de nós. A narrativa é interessante, tenta captar as muitas possibilidades de uma separação afetiva, os aborrecimentos que fazem com que um casamento termine, as misérias do fim de um relacionamento. É preciso que o leitor aceite que esse fato é mais do que corriqueiro, afinal as dores e os desdobramentos de qualquer separação de um casal que um dia se amou talvez seja das poucas coisas que todo ser humano sabe muito bem, em cada época de nossa história, em cada lugar do planeta, em qualquer configuração de amores. Tudo bem, mas o resultado não me convenceu muito. Acho que Patricio Pron tentou colocar no livro o máximo de experiências que usualmente derivam desta situação, relativizando tudo. Além disto o livro é muito esquemático. Ele separa seus capítulos temporalmente, identificando as ocorrências afetivas em 24 horas (após a separação), em uma semana (antes ou após a separação), em cinco anos (o tempo do relacionamento), em uns poucos minutos (de um reencontro algo ex-machina), em 7 meses (o tempo de separação dos protagonistas). A mulher e o homem, nunca nominados, uma arquiteta e um escritor, parecem artificiais demais, recortados demais. Pron povoa a narrativa com vários outros personagens, que são aqueles que usualmente são partícipes do fim de um relacionamento, queiram ou não: os colegas de trabalho, os melhores amigos, os chefes imediatos, os vizinhos, os estranhos que surgem, todos aqueles que de alguma forma os reconhecem como casal. Agora registro algo bobo, fazer o quê? Pron faz um dos personagens visitar o Brasil em algum momento da trama. A descrição de nossas misérias não poderia ser mais cruel, porém verdadeira, mas isso pouco importa, trata-se apenas de um acréscimo sociológico, um afastamento necessário para fazer a narrativa fluir. O que ele fala do Brasil poderia ser dito de qualquer outro país do mundo. Paciência. Agora um registro positivo. O livro faz menção a um curioso "Museum of broken relationships", que existe sim em Zagreb, na Croácia, onde são exibidos objetos associados ao fim de relacionamentos de pessoas do mundo inteiro. Trata-se de um museu de arte conceitual, onde materialidade e relatos da memória e afetos perdidos restam guardados e são exibidos ao público. Para quem gosta de se divertir com os aborrecimentos alheios - ou entender algo da psique humana - é bastante divertido - ou útil. Pobre bicho. Manuel Bandeira já nos ensinou que "(...) os corpos se entendem, mas as almas não". Este é nosso humano defeito básico (e a asserção pode ser invertida, corpos e almas sempre comutam). Enfim, acho que essa tentativa do jovem Patricio Pron de mostrar literariamente como funciona o processo de uma separação pode ser inteiramente resumida num único poema de Manuel Bandeira. Melhor assim. Vale! 
Registro #1422 (romance #358) 
[início: 29/05/2019 - fim: 30/05/2019]
"Mañana tendremos otros nombres", Patricio Pron, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones / Penguin Random House Grupo Editorial), 1a. edição (2019), brochura 15x24 cm, 375 págs. ISBN: 978-84-204-3487-2

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