sábado, 15 de junho de 2019

panorama do finnegans wake

Há dois dias falei de "Finnegans Wake: a plot summary", de John Gordon, um dos muitos livros dedicados a decifrar o inventivo romance final de James Joyce. Hoje, como parte dos festejos para o Bloomsday 2019, vou registrar algo sobre o primeiro projeto de tradução de Finnegans Wake para o português.  Augusto de Campos e Haroldo de Campos começaram a se interessar pelo tema no final dos anos 1950, ao publicarem fragmentos do livro no Suplemento Literário do Jornal do Brasil. Em 1962 eles publicaram em uma edição não-comercial, hors commerce, distribuída pela Conselho Estadual de Cultura de São Paulo, onze fragmentos do "Finnegans Wake". Na primeira edição comercial, de 1971, que inaugurava a hoje mítica coleção SIGNOS, da editora Perspectiva, o conjunto de fragmentos cresceu, alcançando 16 trechos. Em 1986, na terceira edição, o conjunto alcançou 19 e nesta, a quarta e última produzida ainda antes da morte de Haroldo de Campos, o conjunto de fragmentos de "Panorama de Finnegans Wake" chegou a 22, além de numerosas adições e reinterpretações às demais. São propostas muito bacanas, gostosas de ler, que povoam o cérebro do leitor com imagens e inspirações. As muitas dificuldades (diria até intransponibilidades) do livro parecem desaparecer após a leitura das propostas dos irmãos Campos, um trabalho de perfeccionismo comparável ao do original. Além dos fragmentos, que são acompanhados por extensas notas de tradução, o leitor encontra neste volume vários outros mimos, na forma de uma bibliografia completa sobre Joyce e sua obra; uma síntese biobibliográfica; uma sinopse do livro, que ajuda o leitor a localizar no original os fragmentos traduzidos; uma longa apresentação; várias ilustrações (assinadas por Gerty Saruê, uma gravadora, desenhista, artista multimídia austríaca que radicou-se em São Paulo nos anos 1950) e cinco longos ensaios sobre o Finnegans Wake, um assinado por Joseph Campbell e Henry Morton Robinson, três por Augusto de Campos e um por Haroldo de Campos, cinco jóias raras, artigos realmente seminais. Lembro-me de quando encontrei em um sebo paulista um surrado volume da edição de 1971 (que inclusive tinha uma paginação errada, que dificultava a leitura). Estou seguro que "Panorama do Finnegans Wake" é o melhor início para a aventura que é ler Finnegans Wake. Bom divertimento. Domingo é 16 de junho, é Bloomsday novamente, vamos ler Joyce, Ulysses, Finnegans Wake, vamos ler sem medo "(...) riverrun, past Eve and Adam's, from swerve of shore to bend of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to Howth Castle and Environs". Evoé.
Registro #1416 (crônicas e ensaios #260)
[início: 02/02/2019 - fim: 16/06/2019]
"Panorama do Finnegans Wake", Augusto de Campos e Haroldo de Campos, São Paulo: Perspectiva, 4a. edição (2001), brochura 15x20,5 cm, 221 págs., ISBN: 978-85-273-0270-5

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