"A ponte flutuante dos sonhos" foi publicado originalmente em 1959, poucos anos antes da morte de Tanizaki. Trata-se de uma narrativa calma, povoada por imagens de jardins, de sons que são filtrados por uma floresta, de estímulos artísticos e musicais, de poemas, que conduzem o leitor sem pressa. O narrador, Tadasu Otokuni, é um jovem advogado, mas isso só descobriremos no final da leitura. Ele conta fatos de sua vida no início do século XX, quando era bem jovem, relata a vida com seus pais, membros de uma família tradicional japonesa, a morte de sua mãe, o casamento de seu pai com uma jovem cujo passado guarda um segredo e uma miríade de outros sucessos. Há uma perene sensualidade na história, um delicado rendilhado erótico. No início lembrei do jovem Marcel, de Proust, que conta sua dificuldade de dormir sem ser ninado/mimado pela mãe, em "No caminho de Swann". Mas Tanizaki não explora exatamente a psicologia de Tadasu, como faz Proust para falar depois sobre o destino de Charles Swann. Antes descreve como o amor filial de seu protagonista pela segunda esposa de seu pai confunde-se com o desejo, sempre sublimado, sempre algo envergonhado. Tadasu, ainda menino, percebe de alguma forma que aquele arranjo fora antecipado por seu pai e praticamente imposto a ele. Acompanhamos no livro algo sobre o tabu do incesto, o contraste entre classes sociais, as rígidas regras sociais japonesas do início do século passado. Lê-se "A ponte flutuante dos sonhos" em um par de horas, mas as sensações que o livro provoca parecem fundir-se às lembranças mais caras que temos de nós mesmos, de nossa infância, do momento em que encontramos o sublime na arte, a beleza, de quando descobrimos nossa própria sexualidade. Muito bonito. ÔBeleza! Vale!
Registro #1507 (novela #75) [início - fim: 19/01/2020]
"A ponte flutuante dos sonhos", Jun'ichiro Tanizaki, tradução de Andrei Cunha, Ariel Oliveira, Lídia Ivasa, São Paulo: editora Estação Liberdade, 1a.
edição (2019), brochura 14x21 cm, 160 págs. ISBN:
978-85-7448-290-3 [edição original: Yume no Ukibashi 夢の浮橋(中央公論), 1959]
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