João Dusi é redator do bom jornal Cândido, editado pela Biblioteca Pública do Paraná. Recentemente ele publicou um volume de contos: "O grito da borboleta". São dez histórias curtas. Cinco delas gravitam os destinos de um curioso grupo, formado por Pablo, Amaro, Nádia, Pedro, Infante e Rorschach, que compartilham entre si o fato de viverem literalmente nas ruas de Curitiba, como mendigos, ou de estarem nas franjas da sociedade, marginalizados por drogas, estigmatizados por perdas, pelos azares da vida, escolhas ruins, trapaças auto infligidas, ou um outro cruel destino qualquer. Os cinco contos finais me parecem instantâneos biográficos de outros cinco sujeitos desgraçados por suas escolhas de vida: o real Ricardo López, um amalucado uruguaio que um dia foi apaixonado pela cantora islandesa Björk e suicidou-se; Alice, filha dos anos 1960, do movimento hippie, que não consegue fugir de um casamento violento; do real Stanislav Szukalski, um escultor polonês, que escapou do massacre nazista; de um erudito leitor inominado de Imre Kertész, vencedor do prêmio Nobel de literatura em 2002; de um suicida que decide abandonar a vida em uma praça de uma cidade costeira, em uma noite sem lua. Todas as dez narrativas, que são bem curtas, estão bem escritas, mas eu gostei mais do jogo das primeiras cinco histórias, nas quais personagens igualmente desgraçados parecem competir qual deles teve a pior das cotas, tornando a leitura um coisa realmente mágica. Os demais contos são mais convencionais. Corretos, porém estranhos. Provavelmente este seja um um erro de avaliação meu, uma desinteligência minha, de leitor capenga. Paciência. Livro interessante. Vamos a ver o que esse jovem autor nos apresentará no futuro. Vale!
Registro #1508 (contos #175) [início - fim: 14/03/2020]
"O grito da borboleta", João Carlos Dusi, Guaratinguetá / SP : Editora Penalux, 1a. edição (2019), brochura 14x21 cm., 78 págs., ISBN:
978-85-5833-560-7
Nenhum comentário:
Postar um comentário