sexta-feira, 3 de abril de 2020

retrato de shunkin

"Retrato de Shunkin" foi publicado originalmente em 1933, quando Jun'ichiro Tanizaki já era um respeitado escritor e já vivia radicado em Kobe, após seus anos em Tokyo e Kyoto. Trata-se de um texto notável, que explora temas complexos, conduzindo o leitor a uma série de reflexões sobre beleza, estética, talento musical, vaidade, o ofício da docência, inveja, sexualidade, obsessões, ornitologia, crueldade, automutilação e submissão. Um narrador inominado conta o que sabe sobre Shunkin, uma mulher do início do século XIX, famosa por sua beleza e excelência musical na arte do koto e do shamisen, instrumentos de corda japoneses. Filha de uma rica família burguesa, que viveu nas últimas décadas do xogunato (ou seja, antes da Restauração Meiji, que mudou radicalmente o Japão, em 1868), Shunkin, fica cega aos oito anos e passa a dedicar-se ao aprendizado musical, tornando-se uma virtuose. O narrador conta a espécie de escravidão humana que se estabelece entre Shunkin e um rapaz mais jovem e simples, Sasuke, ligado a sua família, que é encarregado de conduzi-la a escola. Shunkin e Sasuke tornam-se mutuamente dependentes, estabelecem uma relação de mestre e discípulo, alcançam respeito e relativa fama em sua área de atuação, e também amantes, pais de crianças que são entregues à adoção, compartilham seus destinos por décadas (Sasuke sobrevive a sua mestre por vinte anos). O leitor é conduzido a uma miríade de reflexões. O texto é belíssimo, lê-se cada parágrafo imaginando como um artífice pode fazer parecer simples o ato de construir frases, produzir imagens, provocar reações, invocar associações. No final o narrador pergunta: "o prezado leitor concorda com ele?". Para saber com o quê deve-se ou não concordar o leitor precisa ler essa maravilhosa novela. Bom divertimento. Vale! 
Registro #1511 (novela #76) 
[início: 21/01/2020 - fim: 24/01/2020]
"Retrato de Shunkin", Jun'ichiro Tanizaki, tradução de Andrei Cunha, Ariel Oliveira, Lídia Ivasa, São Paulo: editora Estação Liberdade, 1a. edição (2019), brochura 14x21 cm, 160 págs. ISBN: 978-85-7448-290-3 [edição original: Shunkinsho 春琴抄(中央公論), 1933]

2 comentários:

Paulo Sousa disse...

Grande Guina! Acabo de concluir o “Há quem prefira urtigas”, do mestre Tanizaki. Mas já tenho a próxima sugestão do escritor, colhida agora em teu post! Evoé!

Aguinaldo Medici Severino disse...

Oi Paulo. Bacana. Vou procurar esse aí. Abração