O texto - anônimo - que deu origem ao mito de Fausto foi publicado em 1587. Christopher Marlowe escreveu a primeira versão dramática deste mito entre 1589 e 1592, mas não é certo que a peça chegou a ser encenada em vida do autor (sabe-se que foi publicada após sua morte, em diferentes versões, em 1604 e 1616). De qualquer forma esse mito literário tem sido reimaginado e reinventado desde então. Há versões para todos os gostos (de
Goethe a Thomas Mann, de Fernando Pessoa a Puchkin, de Murnau a Berlioz, de Gounod a Liszt, de Paul Valéry a David Mamet, dentre
tantos outros). A história é citada ou homenageada em uma miríade de
mídias, formas e contextos da cultura. Tempos atrás fiz um registro de um romance de Sidney Garambone ("Fausto tropical"), jornalista e escritor carioca,
que adaptou a história a seu Rio de Janeiro fundamental. Mas hoje quero fazer o registro de uma versão curitibana, produzida a quatro mãos, pelos poetas Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos: "Um Fausto", publicado provavelmente em 1994. Esta adaptação acompanha de perto os sucessos da primeira parte da versão de Goethe (bem diferente da versão de Marlowe e sem a conclusão popularmente conhecida, com Deus vencendo a aposta que fez com Mefistófeles pela alma de Fausto, elevando-a aos céus, mas isso pouco importa). Na primeira das dez cenas em que "Um Fausto" é dividido, um editor, "à beira da falência, tenta convencer seu melhor poeta a escrever um best-seller" e o leitor descobre como esse poeta é estimulado por sua musa a aceitar o encargo. Após espiar o pacto entre Mefistófeles e Deus, o poeta nos conta como Mefistófeles apresenta-se a Fausto e oferece seus serviços, e como a menina Margarida é vagarosamente seduzida pelas artes infernais até por fim cair em desgraça e ser aprisionada. É um texto gostoso de ler, bem divertido, movimentado. Por ser uma versão debochada, em versos e curta, e por ser o resultado de boas leituras, de sujeitos que sabem equilibrar registros eruditos e populares, a cousa me parece
funcionar, ou seja, me parece encenável, conferindo
dignidade e valor à longa tradição de adaptações deste mito literário. Evoé rapazes, Evoé. O livro inclui algumas ilustrações de Roberto Carlos Jubainski. Bacana. Sigamos o baile macabro deste outono. Quem viver, lerá. Vale!
Registro #1516 (drama #19) [início: 06/04/2020 - fim: 07/04/2020]
"Um Fausto", Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos, Curitiba: Lagarto Editores, 1a.
edição (1994?), brochura 12x18 cm, 48 págs., sem ISBN
Um comentário:
Fiquei curioso, consegui um volume na Estante Virtual, agora é aguardar a chegada. Abraços.
Postar um comentário