Feliz da cidade que tem um poeta para cantá-la e fazê-la ainda mais perene que seu casario, suas ruas, sua paisagem, que a memória mesmo de sua gente. Pejuçara, que fica no noroeste do Rio Grande do Sul, tem esta fortuna e acaba de receber um livro de poesias com seu nome. O lançamento aqui em Santa Maria foi em meados de julho, atrasado com o calendário só tive tempo de dar um abraço no Escobar, perdi a fila e o autógrafo, paciência. Gostei muito do livro. Apesar do que possa parecer da leitura dos primeiros poemas ao final encontramos no livro mais mordacidade que desencanto, mais lucidez que crítica pueril sobre os destinos da cidade (que poderia ser qualquer cidade, mesmo a nossa patética Santa Maria, a caipira Porto Alegre, a nebulosa Curitiba, a sufocante São Paulo, a trivial Rio de Janeiro, a desencantada Brasília). Ao final fiquei com vontade de conhecer Pejuçara, mas talvez esta cidade só exista mesmo no coração do Escobar, não é visível na geografia destes pagos, destes campos. Relembrei de cousas e causos meus, da São Bernardo da Borda dos Campos de Piratininga que hoje mal conheço. A abertura do livro e o fechamento do livro são dois primores, cousas muito bem postas, que convidam o leitor a dividir algo e depois se despedem dele com cortesia. Um verdadeiro achado. Em certa hora lembrei de um poema do Mario de Andrade que começa com "Abancado à escrivaninha em São Paulo, na minha casa da rua Lopes Chaves, de supetão senti um friúme por dentro". Para mim Escobar é um interlocutor deste paulista que pensa nos brasileiros como ele, que sente um friúme por dentro, que esquece o livro palerma que estava lendo, que fica trêmulo com o destino das gentes e das cidades, por que não? [início: 16/07/2009 - fim: 18/08/2009]
"Pejuçara", Escobar Nogueira, editora 7 Letras (1a. edição) 2009, brochura 13x20, 71 págs. ISBN: 978-85-757-7575-2
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