Nunca havia lido nada de Haruki Murakami. Mas esse "Do que eu falo quando eu falo de corrida" não é nenhum de seus romances mais conhecidos (Norwegian Wood, Kafka à beira-mar, Pinball/1973 ou 1Q84). Trata-se de relato biográfico, onde Murakami descreve sua prática como maratonista e triatleta (e a influência destas atividades físicas, incrivelmente contínuas e de alto desempenho, em sua vida e produção literária). As reflexões não são exatamente originais (todo aquele que já praticou exercícios regularmente as conhece e/ou vivencia, cedo ou tarde), mas são considerações realmente interessantes. Segundo ele praticar exercícios regularmente é uma atividade solitária e naqueles momentos em que corremos, nadamos, usamos uma bicicleta ou mesmo nos exercitamos em uma academia) nos transportam a uma espécie de transe similar ao alcançado quando lemos (ou escrevemos, como no caso dele) ficção. O relato alterna passado e o presente na forma de digressões biográficas. Ficamos sabendo como ele abandonou uma aparentemente promissora atividade comercial (como dono de um bem sucedido bar de jazz em Tóquio), arriscando-se a viver de sua produção literária - como ele começou a escrever relativamente tarde (já tinha quase trinta e cinco anos quando publicou seu primeiro livro) não estava muito seguro da viabilidade do projeto. Ele diz também como começou a correr todos os dias para relaxar do tempo em que ficava concentrado na escrita e como passou a progressivamente a correr distâncias mais longas, até determinar-se a correr ao menos uma maratona todos os anos a partir de então. Após ter completado mais de vinte e cinco maratonas, ter começado a praticar triatlo e ter experimentado uma corrida de 100 Km (uma legítima ultra-maratona), Murakami parece satisfeito, tanto com os livros que escreveu, quanto de sua superação pessoal. Apesar do risco inerente de relatos desta natureza tornarem-se registros algo místicos, revelações espirituais e filosóficas, Murakami consegue manter-se objetivo, sem resvalar para sentimentalismos, pieguices ou bobagens de auto-ajuda. Talvez livros assim só sejam de fato interessantes para aqueles que de fato gostem de correr ou nadar regularmente. Vamos em frente (e a ver se encontro algum de seus romances, para descobrir se ele tem mesmo estofo). Vale.
[início 15/12/2012 - fim 17/12/2012]
"Do que eu falo quando eu falo de corrida: um relato pessoal", Haruki Murakami, tradução de Cássio de Arantes Leite, Rio de Janeiro: editora Objetiva, 1a.
edição (2010), brochura 15x23 cm, 150 págs.
ISBN: 978-85-7962-027-0 [edição original: Hashiru Koto Ni Tsuite Kataru Toki Ni Boku No Kataru Koto / 走ることについて語るときに僕の語ること (Tóquio: Bungeishunjū) 2007]
2 comentários:
Gostei dele :-) abraço, clara
Gostei dele :-) abraço, clara
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