sábado, 3 de junho de 2017

detalhes de um pôr-do-sol

Os treze contos incluídos nesta coletânea foram escritos originalmente em russo, entre 1924 e 1935. Nesta época, Vladimir Nabokov, que havia fugido da revolução soviética, vivia exilado em cidades como Berlin, Paris e Riga (na Letônia). Os contos foram publicados em jornais e revistas de emigrados que eram editadas em russo nestes países. Posteriormente, em meados dos anos 1970, os contos foram traduzidos pelo próprio Nabokov e seu filho, Dmitri, do russo para o inglês. Nabokov faz uma pequena introdução em todos os contos, onde ele discute o contexto da publicação original e as opções estilísticas oferecidas pelos títulos e passagens mais herméticas dos textos (mestre supremo da ironia, Nabokov não se furta em alertar nestas introduções, ao eventual leitor, dos erros grosseiros de interpretação dos críticos originais das histórias). Trata-se de um escritor que exige um bocado do leitor, opera num padrão de invenção que impressiona, nada é ligeiro, fraco, mal acabado, irrelevante ou sem significado). Aprendizes do ofício têm muito a aprender com o sujeito. Os contos que mais gostei foram (i) "A campainha da porta", no qual acompanhamos o desconforto de um rapaz russo que reencontra a mãe após três anos, em Berlin, justamente na hora em que ela esperava um pretendente e provável noivo; (ii) "Uma fatia de vida", onde uma mulher conta como seu cunhado tentou matar a mulher após uma separação, obrigando-a a cruzar Berlin várias vezes, tornando-a um espécie de personagem da história; (iii) "Um homem ocupado", em que acompanhamos a obsessão de um homem com a probabilidade de morrer antes de completar seus 33 anos e (iv) "Natal", onde um sujeito lembra da morte de um filho pequeno e, ao mexer em seus guardados, presencia um prodígio que redime um tanto de sua dor. Cito apenas esta terça parte dos contos, mas poderia elencar pelo menos outros quatro igualmente surpreendentes e ricos. Nenhum conto parece deslocado nesta excelente coleção. Enfim, preciso procurar mais coisas dele. O Nabokov sabia mesmo contar histórias. Li há tantos anos seus romances e nunca me deparei com seus contos (essa edição da Companhia das Letras é antiga, de 2002, comprei por acaso na última feira do livro de Santa Maria, do Ricardo, lá da Disco Voador). 
[início: 07/05/2017 - fim: 15/05/2017]
"Detalhes de um pôr-do-sol", Vladimir Nabokov, tradução de Jorio Dauster, São Paulo: editora Schwarcz (Grupo Companhia das Letras), 1a. edição (2002), brochura 14x21 cm., 173 págs., ISBN: 978-85-359-0267-8 [edição original: Details of a sunset and others stories (New York: McGraw-Hill) 1976]

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