Hoje é Bloomsday, o glorioso Bloomsday deste 16 de junho de 2017. Gosto sempre de tentar marcar a data com alguma citação literária em homenagem a James Joyce ou a seu "Ulysses". Neste ano escolhi este delicioso livrinho de Adrienne Monnier. No final de 1915 ela abriu uma livraria (que também funcionava como biblioteca de empréstimos para assinantes), a lendária "La Maison des Amis des Livres". Manteve a livraria até meados de 1951. Por ela passaram quase todos os escritores, compositores, poetas, jornalistas, pensadores, filósofos, intelectuais mais importantes da primeira metade do século XX, franceses e não franceses. Entusiasta dos livros e da literatura ela não apenas vendia e emprestava livros de poetas e escritores, sobretudo os modernos, referência da primeira metade do século XX, como editava aqueles que lhe pareciam inovadores e/ou importantes. Ela também editou revistas literárias, como a Le Navire d'Argent e La Gazette des Amis des Livres. Adrienne Monnier auxiliou Sylvia Beach, americana radicada em Paris, a fundar uma livraria igualmente icônica de Paris, a Shakespeare and Company, em 1919. Nos anos 1920 essas duas livrarias (a La Maison des Amis des Livres e a Shakespeare and Company) ocupavam a rue de l'Odeón, no Quartier Latin, à margem esquerda do rio Sena), posteriormente a Shakespeare and Company mudou-se para a rue de la Bûcherie, no mesmo bairro. Elas duas se envolveram com o projeto de edição do Ulysses. Sylvia Beach com a edição original, em inglês, em 1922. Monnier com a tradução francesa, publicada em 1929, feita por Auguste Morel (com a assistência de Stuart Gilbert, Valery Larbaud e o próprio Joyce). "Rua do Odéon" foi publicado originalmente em 1960, cinco anos após o suicídio de Adrienne Monnier. Ela em vida manifestou o desejo que os textos nele reunidos, anteriormente publicados em jornais ou apenas distribuídos aos amigos, fossem publicados em livro. O leitor encontra quatro conjuntos de textos. O primeiro, "Os amigos dos livros", têm a ver com sua vocação para livreira e a fundação da livraria, são textos escritos entre 1918 e 1939. O segundo conjunto, "Rua do Odeón" reune textos esparsos sobre o exercício do ofício de livreira, escritos entre 1926 e 1954. O terceiro conjunto reúne artigos que ela pretendia incluir em uma obra sem ligação com sua vida de livreira, são textos sobre suas viagens à Londres e a Itália, ainda na juventude, e sobre sua formação acadêmica. O livro inclui também relatos de contemporâneos dela, alguns produzidos ainda no início de sua carreira, de 1919, outros já posteriores a sua morte, obviamente elegíacos. Falar dos frequentadores da livraria de Adrienne Monnier ou das pessoas que são citadas no livro é fazer um censo daquilo que de melhor a Europa produziu na primeira metade do século XX. Ela trata de Fargue a Valéry, de Léautaud a Rilke, de Beckett a Hemingway, de Benjamin a Joyce, de Prévert a Cocteau, de Dujardin a Gide, de Aragon a Breton, de Apollinaire a Claudel, de Larbaud a Poulenc, de Reverdy a Perse. Que mulher industriosa. Viva Monnier. Viva Beach. Viva Joyce. Viva o Bloomsday.
[início:24/05/2017 - fim: 29/05/2017]
"Rua do Odéon", Adrienne Monnier, tradução de Júlio Castañon Guimarães, Belo Horizonte: editora Autêntica, 1a. edição (2017), brochura 14x21 cm., 239 págs., ISBN: 978-85-8217-613-9 [edição original: Rue de l'Odéon (Paris: Les éditions Albin Michel) 1960, 1968, 2009]
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